Os dias seguintes correram mansos em Santa Aurélia. O calor do fim do verão parecia tornar as horas mais lentas, preguiçosas. O solar Ferraz estava cheio de vida — as crianças vinham às aulas de música, Teresa cuidava das roseiras, e Amélia começava a se firmar como professora.
Mas, dentro de Gabriel, algo não se encaixava. O envelope que guardava de Adriano pesava em sua mente como uma pedra que ele não conseguia mover. Tentava fingir normalidade, mas o peso do que sabia o consumia.
Ele não era apenas um observador daquela história.
Estava, de alguma forma, dentro dela.
Numa manhã abafada, Clara chegou ao solar com notícias.
— A Justiça arquivou oficialmente o caso Monteiro — anunciou, enquanto Isabel servia café. — As investigações encerraram. Todos os cúmplices foram condenados ou estão sob acordo de delação.
— Então acabou mesmo. — Isabel sorriu, aliviada. — Depois de tudo, é estranho pensar que acabou.
— O fim raramente parece um fim — comentou Clara. — Às vezes, é só o intervalo