Os primeiros dias de outono chegaram leves, com ventos que cheiravam a folhas secas e terra molhada. Mas dentro do solar Ferraz, a atmosfera começava a mudar — lenta, quase imperceptível. Era o tipo de mudança que não se via, apenas se sentia. Um olhar mais demorado, um silêncio fora de hora, uma ausência que pesava.
Gabriel andava diferente.
Mais calado. Mais distante.
E, quando acreditava que ninguém o via, se trancava no escritório e passava horas diante de papéis e pastas antigas.
Isabel percebia, claro. Não à primeira vista — ela o conhecia o suficiente para saber quando o silêncio dele era apenas introspecção e quando escondia algo. Agora, era diferente. Havia inquietação nos gestos, nos olhos, no modo como ele evitava perguntas simples.
Certa noite, ela acordou e não o encontrou ao seu lado. O relógio marcava duas da manhã. O som de um clique suave veio do corredor. Isabel levantou devagar, os pés descalços tocando o assoalho frio.
Seguiu a luz fraca que escapava por baixo da p