A manhã seguinte amanheceu fria, coberta por um nevoeiro espesso que escondia o jardim do solar Ferraz. Isabel despertou com o som da chuva batendo nas janelas — uma chuva fina, persistente, daquelas que pareciam querer lavar o mundo. Gabriel ainda dormia, o braço repousado sobre ela. Por um momento, Isabel ficou apenas observando o rosto dele, tranquilo, alheio ao peso do passado que por tanto tempo os havia perseguido.
Mas a tranquilidade durou pouco.
Ao descer para o escritório, encontrou sobre a mesa o envelope que Gabriel deixara ali na noite anterior, junto à correspondência comum. O papel era espesso, o selo antigo, com brasões e letras em alto-relevo. Nenhum remetente claro, apenas uma inscrição: “Particular – Entregar somente em mãos.”
Isabel o pegou, hesitante. Havia algo nele que a inquietava. O toque do papel era frio, quase áspero. Abriu-o com cuidado, e um único documento caiu sobre a mesa — uma carta escrita à mão, em caligrafia precisa e firme.
Senhora Isabel Valente F