A chuva engrossou sobre Santa Aurélia naquela noite. As ruas refletiam o brilho das luzes da cidade, e os ecos da entrevista de Isabel e Gabriel ainda dominavam os noticiários. As manchetes falavam em redenção, em justiça, em coragem. Mas para Adriano Monteiro, cada palavra dita era uma lâmina.
Ele observava as notícias pela tela de um celular, abrigado dentro do carro estacionado a poucos quarteirões do solar Ferraz. O cigarro queimava devagar entre os dedos, e o olhar dele era de quem já não tinha mais nada a perder.
— Eles pensam que venceram — murmurou, jogando o cigarro pela janela. — Mas não se vence o que não morre.
No solar, o clima era outro. A entrevista havia terminado horas antes, e, pela primeira vez em muito tempo, Isabel permitiu-se sorrir sem medo. Gabriel a observava enquanto ela tirava os brincos, o cabelo solto caindo pelos ombros.
— Você foi incrível hoje — disse ele, aproximando-se.
Isabel virou-se e encostou a testa no peito dele.
— Foi libertador. Pela primeira