A manhã nasceu clara em Santa Aurélia, mas a paz da cidade não refletia em todos os lugares. Dentro de um quarto simples de hotel, Adriano Monteiro andava de um lado para o outro, impaciente, como se o chão não fosse suficiente para segurar sua fúria. A porta rangeu e o criado subornado entrou, cabisbaixo, trazendo em mãos um pequeno caderno de anotações.
— Fale — ordenou Adriano, a voz cortante.
O criado pigarreou, hesitando.
— Como o senhor pediu, fiquei de olho nos dias no solar Ferraz. A senhorita Isabel… tem passado quase todo o tempo com o doutor Gabriel. Caminham juntos, jantam juntos e… ontem, à noite… — a voz morreu, como se tivesse medo de terminar.
— Termine! — rugiu Adriano, batendo a mão na mesa com força.
— Ontem… os vi na varanda. Estavam muito próximos. Conversaram bastante e, depois… se beijaram.
O impacto foi imediato. Adriano fechou os punhos até os nós dos dedos ficarem brancos, o peito arfando em descompasso, como se tentasse prender dentro de si a raiva que ameaç