No dia seguinte, ainda cedo, começaram a chegar os convidados. Alfas e Betas, com suas famílias que vieram de longe para festejar e apresentar suas filhas ao Alfa. Corina chamou Lara, que não pode se esquivar e atendeu-a:
— Bom dia, senhora Corina. Em que posso lhe servir? — Venha hoje, às seis horas, para ajudar na cozinha com a limpeza, está bem? — Sim, senhora, estarei aqui. Lara correu para o herbário e chegou cansada e com o tornozelo doendo. — Bom dia, senhor Schein. — Bom dia, Lara. Como está seu tornozelo? — Vou trocar o emplastro e já inicio o trabalho. O senhor vai à festa do Alfa? — Quem não vai? — respondeu ele sorrindo, sequer lembrando que Lara não era alguém. — Eu fui convocada, preciso chegar às seis horas. — Até lá dá para fazer bastante coisa, inicie logo. Precisa plantar as mudas, colher as plantas para o spray ocultador e arrumar as prateleiras de medicamentos. — Pode deixar, senhor Schein, deixarei tudo pronto antes de sair. Rapidamente ela trocou o curativo, pôs-se a executar suas tarefas e às seis horas da tarde, estava na frente de Corina. — Aqui estou, senhora Corina, o que quer que eu faça? — Deixei um uniforme no quartinho, tome um banho, vista-se e venha. Você será responsável por manter a cozinha limpa. Pode ir. Foi para o quartinho no fundo da despensa, tomou banho e aproveitou para refazer o emplastro e enfaixar o tornozelo. — Que bom que é um uniforme masculino e tem touca. Assim escondo o tornozelo e os cabelos. Deixei minhas coisas no pequeno armário e fui para a cozinha, onde o trabalho já havia começado e já tinha muita coisa para fazer. Uma fêmea se aproximou dela e perguntou: — É você que ficará responsável pela limpeza? — Boa noite, senhora. Sou eu sim, com licença que já vou começar. Lara sabia muito bem o que tinha que fazer e estava acostumada a receber ordens, mas não de estranhos. Não aceitaria ser humilhada por mais alguém. — Mas que garota insolente, com quem pensa que está falando? — Não sei, senhora, mas preciso trabalhar ou a sujeira vai acumular, com licença. Como a fêmea não saía da frente, Lara virou-se e foi pegar a lixeira, um pano de limpeza e a vassoura. Começou limpando a mesa, que estava cheia de cascas de legumes, que jogou na lixeira. Passou a vassoura rapidamente e foi lavar a louça. Um macho se aproximou e zombou da fêmea: — É Lola, encontrou uma a quem você não pode pisar. — Eu não piso em ninguém, só organizo o trabalho e se todos fossem eficientes, não precisariam que eu lhes chamasse a atenção. Lara conseguiu manter a cozinha limpa, mas também, permanecer invisível. A festa começou e os garçons iniciaram o serviço. O jantar ficou pronto e foi servido e Lara sentou-se na escada que saía da cozinha para a área dos fundos, para sair do caminho. Corina saiu e sentou-se um instante, dando a ela um copo de suco. — Logo terá terminado e poderemos descansar. O bufê irá embora e ficará mais fácil limpar tudo. — Sim, até aqui foi tranquilo, senhora Corina. Obrigada pelo suco. Ouviram o barulho de algo se quebrando dentro do salão e Corina levantou-se correndo para ver o que era, logo estava de volta chamando Lara. — Venha, pequena, precisamos de limpeza no salão. Lara levantou-se, pegou uma pá com uma escova caso, houvessem cacos de vidro e o esfregão do Mop. Sempre andava com um pano de limpeza no bolso, para uma eventualidade. Entrou no salão rapidamente, seguindo Corina e ficou surpresa quando viu que teria que limpar a área do Alfa. Ele estava todo molhado e havia se levantado. Olhou para ela e ordenou: — Limpe isso enquanto me troco. — Sim, Alfa. — respondeu ela, de cabeça baixa. Quando ele saiu, ela juntou todos os cacos do prato quebrado, assim como os restos de comida que se espalharam sobre a mesa, foi rapidamente jogar tudo na lixeira e voltou para passar um pano úmido e deixar cadeira e mesa limpos. Corina trouxe outro conjunto de louça para repor o que foi quebrado e quando as duas estavam se retirando, o Alfa voltou. — Espere, não vá. Lara continuou saindo, pensando que ele estava falando com Corina, mas logo sentiu as garras dele entrando em seu braço. — Não escutou a minha ordem? — Desculpe, Alfa. — Fique ali no canto da parede, para o caso de ser necessária, novamente. Lara não sabia o que tinha acontecido, mas se posicionou ao lado de um dos seguranças, no canto da parede, com a cabeça baixa. Depois de tanto trabalho, seu tornozelo começou a doer e se permanecesse de pé por muito tempo, logo não aguentaria sustentar o corpo naquela posição. Já estava de pé a algum tempo, quando ouviu o rosnado baixo do Alfa. — Pare de me encarar, atrevida, vire a cara para a parede. Como Lara estava com a cabeça baixa, não entendeu que era com ela. A dor no seu corpo estava aumentando, o que a deixava desapercebida do ambiente ao seu redor. Não viu quando ele levantou-se e foi até ela, com suas garras à mostra, segurou seu braço e virou-a violentamente de cara para parede. Ela cambaleou, bateu a testa na parede e se ele não estivesse a segurando, teria caído. Ele pareceu perceber e sustentou-a, até que ela conseguiu se firmar, só então a largou e voltou para o seu lugar. Iniciou um burburinho pelo salão e Lara ouviu um dos convidados reclamar: — Por quê ele está sendo tão violento com a serva, o que ela fez de errado? — Ela é um filhote de rebeldes e vive de favor, não tem loba e acha que pode fazer o que bem quer. Quer levar para a sua Alcateia, Alfa Jerome? — Minha companheira ficou com pena da jovem, perdemos nossa filha assim que nasceu e ela é atormentada por isso todas as noites. Nos perdoe. — Eu soube desse caso, quanto tempo faz? — Mais de 20 anos. — Nunca a encontraram? — Não, procuramos por todos os lados, mas com a invasão dos desgarrados, não a encontramos. — Foram eles que a sequestraram? — Não, foi uma fêmea rebelde e invejosa, que queria ser a Luna. Ela sumiu com a nossa filhote assim que nasceu. — quem respondeu, agora, foi a Luna Desirrè. Um sonido apitou na mente de Lara, lembrando-a da sua própria história, mas estava tão cansada e com dor, que logo o pensamento lhe escapou. — Sinto muito por vocês, pelo menos têm dois herdeiros machos que assumirão a Alcateia. — Sim, poderia ser o nosso consolo, mas não é, sempre sentirei falta da minha filhotinha. — lamentou-se Desirée. Um movimento chamou a atenção do Alfa, era Lara, virando o rosto para ver a Luna que falava.