O Alfa Júlio mandou que fizessem uma fogueira e queimassem os corpos de maneira correta e não impedissem o povo de participar. Assim, foram executar as ordens do Alfa e ele terminou seu banho e se vestiu para buscar sua fêmea.
Saiu do quarto e encontrou Corina, segurando um balde com materiais de limpeza. — O quarto está pronto, Corina? — Sim. Você matou o Beta Clóvis? — perguntou ela, incrédula. — E toda sua família. Ele me afrontou diante de toda a Alcateia. Estava se comportando como se fosse o Alfa. — Estavam muito certos da vitória. Com a morte do Clóvis, os outros vão se acovardar. Júlio prestou bastante atenção as palavras de Corina e estava revoltado com a prepotência e arrogância dos que planejam contra ele. — Com a programação que preparei, nenhum deles vai escapar. Vou buscar Lara. — Cuidado com ela, Alfa. Tem três costelas quebradas e feridas feias nos braços. Júlio abaixou a cabeça, consternado com o que fez com sua companheira. Eram muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo e sua mente precisava de um descanso, mas antes, cuidaria de sua companheira. — Não me conformo por ter sido um imbecil e machucado minha fêmea. — confessou ele para Corina. — Espero que isso signifique que não vai rejeitá-la. — Vamos ver, Corina, vamos ver. No herbário, Schein ficou sabendo da morte do Beta Clóvis e tratou de destruir os frascos da mistura especial que fez a pedido do ex-beta. Sabia bem quais eram as intenções do traidor e não queria seguir seu destino. Ele saiu da casa principal e foi para o anexo dos funcionários, entrou e chegou ao quarto de Lara, que dormia. Pegou-a no colo com cuidado e saiu. Ela acordou no meio do caminho e gemeu, fazendo careta. — Já estamos chegando, aguenta, por favor. — Você… — gemeu ela, sentindo dor e medo. — Sim, eu. Não faça barulho, não queremos alertar os outros, não é mesmo? — O s be tas? — Sim, você ficará comigo até a lua cheia e participará da comemoração. Júlio percebeu que as lágrimas desceram, silenciosamente, por seu rosto, que ela escondeu no peito de quem a carregava. Ele chegou ao quarto preparado para ela e a deitou na cama com cuidado. Inclinou-se e cheirou seu pescoço, sentindo o cheiro da loba, muito fraco, apesar do spray de ocultação. — Seu cheiro está fraco, mas está presente. Sua loba está para sair. Ela olhou para o Alfa, estranhando toda aquela gentileza. Não se parecia em nada com seu agressor. — Por quê você está agindo assim? — Assim, como? Protegendo-a? — Me proteger por quê, depois de me deixar quebrada e ferida? — perguntou ela, gemendo e fazendo careta. — Isso é algo de que me arrependo muito, desculpe, esqueci completamente que você não se transformou ainda. — Então, não teria feito se lembrasse? Ele abaixou a cabeça, envergonhado. — Não posso reverter o que fiz, mas prometo que não farei mais. — Nada desculpa sua violência. Vai tratar sua companheira assim, quando a encontrar? Ele a puxou, tomando cuidado com suas costelas e comprimiu seus lábios, pressionando-os. Quando ela se debateu e gemeu de dor, ele suavizou o toque e beijou-a com doçura, experimentando seus lábios e buscando sua língua, insistindo em seus movimentos, até que ela correspondeu e então se afastou. — Está bom assim? — Por quê você fez isso? É outra forma de tortura? — perguntou ela, irritada por ter cedido ao beijo. Ela não compreendia sua aceitação e o raio que percorreu seu corpo, quando suas línguas se tocaram. Nunca tinha sido beijada e o prazer que sentiu, foi totalmente inesperado e ficou vermelha, envergonhada. Ele notou e sorriu só com a boca, de lado. Percebeu a surpresa dela pelo que sentiu com o beijo, mas ele sabia que a atração era causada pelo laço de companheiros e não por amor. — Descanse, você precisa se resguardar. Não tema nenhuma cobrança ou alguém vindo importuná-la, já avisei que você está indisponível por duas semanas. “ Duas semanas…não podia ser para o resto da vida? “ Pensou ela, mas não foi o que perguntou. — O que deu em você? — Descobri uma tramoia dos meus Betas para tomar o meu lugar, usando você. Pensei que estavam cuidando bem de você, mas estavam manipulando sua situação, para me acusar de negligência. — Você demorou muito a descobrir, o que há com sua cabeça? — Sim, tenho sentido minha companheira bem próxima e meu lobo está ansioso para encontrá-la, porém, menos selvagem. — Sua desculpa é sua companheira. Então por quê me humilhou e feriu daquele jeito? Qual o seu prazer em ferir alguém inferior a você? Júlio lembrou da loba vermelha e resolveu não aprofundar aquele assunto, em uma tentativa de acalmá-la. Ela não cedeu em nenhum instante, colocando uma parede entre eles. — Já pedi perdão, que tal você esquecer isso, agora. Descanse, tenho outras coisas para fazer ao invés de ser sua babá. — Grosso! Você tomou a iniciativa e não faz mais que sua obrigação. — disse ela ao olhar suas costas ao sair. * O Alfa que queria descansar, não conseguiu e foi para seu escritório, pesquisar as contas e os serviços dos betas. À medida que examinava as contas, surpreendia-se com a quantidade de materiais inexplicáveis e sem necessidade que foram adquiridos. Levantou-se e foi ao depósito de produtos de primeira necessidade, que eram distribuídos à população. Percebeu com sua audição lupina, uma discrição na entrada do galpão. — O Beta Clóvis morreu, por quê vocês continuam cobrando esses valores absurdos? — Era a voz de uma das fêmeas mais antigas da Alcateia. — Parem de reclamar e paguem logo ou parem de atrapalhar. — Júlio não reconheceu a voz do macho. Conforme se aproximava, notou uma fila de espera para atendimento e todos reclamavam. A entrada estava bloqueada por um balcão e os produtos que eram para serem entregues de graça, estavam sendo vendidos. Quase chorou. O atendente ficou branco ao ouvir o rosnado do Alfa, antes de ver a figura imponente, colocar as mãos sobre o balcão. — Quem é você? — perguntou Júlio. — Ele é o filho adotivo do Clóvis, Alfa. — respondeu a fêmea que discutia com o macho, antes. — Então, todos se foram, mas ficou o rabo… — Júlio não perguntou mais nada, uivou chamando seus guardas, que logo chegaram ao local. — Ei, Alfa! O que está fazendo? Cuido desse armazem a muito tempo e todos sabem como é, não estou fazendo nada errado. — disse o rapaz. — Qual o seu nome? — perguntou; Alfa. — Décio, Alfa. — Quem ensinou você esse serviço? — Foi o Beta Clóvis, quando seu filho foi para a faculdade. — Então você assumiu o que já faziam, entendo. Só que esse não é o correto a se fazer, não vendemos os produtos, distribuímos gratuitamente, pois cada um faz sua parte para manter o estoque. — De graça? — Décio soltou uma gargalhada — O faturamento aqui é muito grande, é uma idiotice não explorar essa mina. Os guardas chegaram e Décio se calou. Júlio acenou com a cabeça e o macho que não sorria mais, foi preso. — O que faremos com ele, Alfa? — O mesmo que foi feito com o resto da família e verifiquem se tem mais alguém ligado ao Clóvis e deem o mesmo destino. Depois que levaram os jovens, julho retirou o balcão da frente do depósito, com a ajuda do pessoal que estava esperando e designou dois deles para orientar o povo na distribuição. Voltou para casa, cabisbaixo, refletindo em seu excesso de confiança nas pessoas erradas e desleixo com o trabalho que deveria ter feito para sua Alcateia.