O Alfa Júlio era conhecido pela sua selvageria, um macho forte, grande e sem piedade. Era filho do antigo Alfa, que era mais cruel que ele e foi morto em uma cilada dos rebeldes. Não teve mãe, pois ela morreu no parto e quem o criou foi Corina.
Já tinha mais de 100 anos e não tinha encontrado sua companheira. Corina achava que toda aquela violência, devia-se ao fato dele estar sozinho. Apesar dele ser rude, era justo e isso amenizava sua grosseria. Neste momento, Corina se preocupou com Lara, pois também não estava entendendo a implicância dele, que se levantou e pegou a jovem pelo braço, onde o sangue já escorria e jogou-a no chão, aos pés dele, que tornou a sentar-se à mesa. — Vamos ver se agora você fica quieta, cachorrinha. Depois disso, ele continuou comendo e conversando e de vez em quando, jogava um pedaço de carne para ela e se ela não pegasse do chão e comesse, ele a chutava. Lara trincou os dentes no pedaço de carne, para conter o gemido de dor, se ele continuasse a chutá-la assim, sairia dali com uma costela quebrada. Seu alívio era não estar mais de pé ou passaria a vergonha de cair na frente dos convidados, mostrando sua fraqueza humana. Mas quando, finalmente, o banquete acabou, ela estava tão debilitada que o último chute dele a levou para baixo da mesa e lá ela ficou. Corina procurou por ela para fazer a limpeza, mas não a encontrou e pensou que ela tinha fugido, como sempre fazia quando se confrontava com o Alfa. Foi ela mesma limpar tudo. Pediu alguns seguranças que recolhessem as mesas e um deles correu para chamá-la na cozinha: — Senhora Corina, venha até o salão, por favor, a senhora precisa ver isso. Já era madrugada e todos já tinham ido embora, a cozinha estava limpa e só faltava o mesmo retirar as mesas, para isso, os segurança juntaram todas as toalhas e colocaram em sacos pretos para levarem a lavanderia no dia seguinte e foi aí que surgiu a figura de baixo da mesa. — Oh, minha lua, pobre menina. — O que fazemos com ela? — Retirem a mesa, vou ver como ela está. Assim que os soldados tiraram a mesa, Corina verificou os sinais vitais de Lara e percebeu que ela estava muito ferida. Além de ter ficado de pé por muito tempo com o tornozelo machucado, o Alfa feriu seus braços que sangraram muito e seus chutes pareciam ter quebrado algumas costelas. — Então, senhora, quer que a leve para a cama? — perguntou o segurança. — Vamos levá-la para a clínica, ela ainda não tem loba. — É mesmo, esqueci que ela é quase humana. Corina não falou nada, mas ficou com raiva daqueles que impediram a loba dela de sair. Ela fingia não saber, só para não criar confusão com os Betas que eram os auxiliares diretos do Alfa. O segurança de nome Ruan, carregou Lara nos braços até a clínica, caminhando rapidamente e tentando mexer o corpo o mínimo possível. Ao chegarem lá, o médico que estava de plantão havia ido para casa, pois nunca tinham ocorrências e ele não se importou em cumprir seu serviço. Enviaram alguém para chamá-lo depois de tentarem ligar e não conseguirem contactá-lo, mas ele demorou e só apareceu quando o dia estava amanhecendo. — Que bom que chegou, doutor. Corina deixou a sem família para o senhor examinar. — Quem fez isso com ela? — perguntou ele, olhando por alto, os ferimentos e se arrependendo de ter demorado a vir. — Parece que foi o Alfa, doutor. Ela deve ter aprontado algo, para ele feri-la assim. — opinou a enfermeira. — Não vamos julgar sem saber a história, nenhuma fêmea merece passar por isso, ainda mais, sem loba. — Não entendo por quê não mandaram ela para a cidade dos humanos. — Para explorar a pobre criança, o que mais? As enfermeiras já haviam tirado a roupa dela e colocado um avental hospitalar. Ele observou mais atentamente e verificou que as feridas no braço eram de garras e suas costelas pareciam quebradas, com imensos hematomas em seu peito. — Preparem o raio X, vamos radiografar essas fraturas. — A perna também está ferida, mas parece ser mais antiga. — Vamos radiografar tudo. Com as chapas na mão, ele verificou as fraturas e ficou aliviado por não ter nada fora do lugar. Então, depois de injetar o soro com medicação, enfaixou o peito dela para aliviar a dor e manter as costelas no lugar enquanto cicatrizavam, trocou os curativos da perna e tornozelo, fechou as feridas no braço, cobriu-a e deixou-a dormir no leito da Clínica. — Vamos mantê-la aqui por dois dias, para não correr o risco dos ossos calcificarem errado. Avisem Corina. — Quem será que está com ela essa semana? Com certeza, não vai gostar de perder a escrava. — disse a enfermeira, fazendo chacota. * Enquanto isso, o Alfa Júlio, que não conseguiu dormir, saiu e deixou o seu lobo dominar e correr pela floresta. Em sua mente, conversavam: “ Acho que ela é nossa companheira.“ disse Rufus, o lobo. “ Se for, irei rejeitá-la, como posso ter uma Luna que nem loba tem.” “ Eu sinto a loba dela, ela só não teve oportunidade de sair.” Disse Rufus. “ Como assim? Temos festividade em toda lua cheia.” “ Mas ela nunca foi a nenhuma delas. Aconselho você a prestar mais atenção na vida dela. Desde que chegou que é explorada, indo de casa em casa e servindo aquelas fêmeas fúteis e preguiçosas. Eles devem fazer algo para prender sua loba.” “ Não acredito que meus Betas e Conselheiros fariam isso.” “ Você às vezes me parece muito tapado. Preste atenção, vamos investigar, como ninguém nunca descobriu quem ela é? Nem registro ela tem.” “ Como você sabe disso? “ “ Ouço os lobos dos Betas, esqueceu? Eles fazem questão de mantê-la nessa situação. Não sei como ainda não a violaram. “ “ Vai ver é por ela não participar da caçada e por eles já terem companheira.” Raciocinou Júlio. “ Mas os filhos deles já estão de olho nela, é melhor tomarmos uma atitude logo ou eles vão achar que podem usá-la como quiserem.” Rufus continuou correndo até a cachoeira, tomou banho e só então deitou e dormiram, permanecendo ali por várias horas. Júlio não percebia que a maneira agressiva como tratava Lara, era por intuir que ela era sua companheira e já a rejeitar, por ser a ninguém da Alcateia. Punia a fêmea, sem que ela lhe desse motivo algum e isso estava criando dentro dela, rejeição a ele.