Corina correu, depois de deixar Lara no anexo, chegando rapidamente ao herbário e o senhor Schein lhe entregou o que era necessário, ela voltou e conseguiu entregar a Lara, antes que Júlio voltasse. Também ficou com um frasco e borrifou nos lugares onde Lara ficou.
Júlio voltou, agindo furtivamente e silencioso. Ainda do lado de fora, apurou a audição e ouviu os sons do interior da casa, absorvendo o ar e percebendo o cheiro de Corina saindo da casa com Lara. O cheiro de sua companheira era muito suave, quase imperceptível, mas ele era o Alfa e sabia bem para onde tinham ido. Ocultou-se entre as árvores, nos arredores do anexo e esperou Corina voltar, queria saber o que pretendiam, além de ocultar Lara. “ Você já sabe o que querem, esconder Lara para protegê-la de você, idiota.” Disse Rufus, irritado. “ Eu não acredito que seja só isso, deve ter outro motivo. Somos o Alfa, seja o que for, preciso saber, pois posso resolver.” “ Até mesmo a proteger de você mesmo? “ “ Cale a boca, ela está vindo.” Ele viu Corina entrar e ouviu sua conversa com Lara, mas era só ocultação do cheiro, precisava saber o que havia a mais que isso. Seguiu Corina até a casa e viu-a borrifando o spray na cozinha. — Corina, precisamos conversar. — disse ao entrar na cozinha, assustando a fêmea. — Alfa! Não me puna por tomar uma decisão a favor de quem não tem como lutar. — Não vou punir ninguém, Corina. Só quero a verdade. Pode me contar a verdade? — Você não vai gostar, meu querido. Criei você com todo cuidado, mas esqueci de te proteger dos mentirosos e gananciosos e agora, eles irão te destruir, se eu não esconder aquela que pode acabar com você. — Fale claramente, Corina. — perguntou ele, franzindo a testa sem acreditar que aquela fêmea fraca podia fazer algo que o afetasse. — É melhor irmos ao seu escritório. — Está bem. Mas quero pormenores e depois, eu mesmo protegerei minha Luna. Corina parou e virou-se, olhando firme para o homem que ela criou e não para o Alfa. — Você a protegerá como fez no banquete, onde quebrou três de suas costelas e furou seu braço com suas garras, fazendo-a perder muito sangue e desmaiar? Sinto muito, mas você não me inspira confiança. Continuou andando, depois de falar e entrou no escritório, seguida de Júlio, que não respondeu, afinal, ela tinha razão e por mais que arrumasse desculpas, não tinha o direito de fazer o que fez com Lara. Depois que ele fechou a porta, vestiu-se, pois ainda estava nu. Nem se deu conta que apareceu para todos, na clínica , pelado. Então, sentou-se e esperou que Corina contasse o que sabia. — Lara foi encontrada no mato, nas mãos de uma loba que foi morta e na época, seu pai lhe deixou viver, deixando a responsabilidade de cuidar dela, aos seus Betas. Alguns apenas cuidaram de suas necessidades, outros a escravizaram. Criaram um sistema que beneficiou só a eles, onde a menina cresceu servindo, atendendo os desejos de fêmeas fúteis e sendo humilhada por suas filhas. Foi uma grande sorte, ela não ter sido abusada. — Eu já sabia do acordo de divisão de trabalho sobre ela e daí, eu não sabia que ela era minha companheira, sequer achei que tinha uma loba. — Aí é que está a artimanha. Eles a prendiam em toda lua cheia, não deixando sua loba sair. Ela fará 21 anos em alguns dias e será sua última oportunidade de se transformar, se não acontecer, ela não durará mais muito tempo. “ Eu te disse.” Aproveitou Rufus, para jogar a verdade na cara do Alfa. — Ainda não entendi o que isso tem a ver comigo, só agora soube que ela é minha companheira. Rufus já desconfiava, mas eu não aceitava, por ela ser quem é. — E quem ela é? Uma escrava, uma sem família, alguém fácil de manipular porque está sempre sorrindo e baixando a cabeça? Pela lua! Ela nem tem registro. Quem ela é? Júlio ficou estarrecido com aquela pergunta, pois nunca pensou nela como sendo alguém, não de verdade, ou teria se interessado em seu bem estar e descoberto o quão mal era tratada. — Não sabia que ela não tinha registro, pensei que meu pai havia cuidado disso e lhe dado o nosso sobrenome. “ Isso, desculpe o seu mau comportamento colocando a culpa nos outros.“ Continuou alfinetando, Rufus. — Ela não tem sobrenome e foi só por isso que não foi embora. Sem nome e sem loba, como seria aceita em outro lugar? Os dois se calaram por um tempo, pensativos e Júlio tomou uma decisão. — Vamos deixá-la se transformar, saberemos mais sobre sua origem ao vermos sua loba. Rufus poderá conversar com ela e descobrir mais. — Você já viu seus cabelos? — perguntou Corina. Ele tentou lembrar, mas só a viu de boné. — Não, por quê? — Talvez seja por terem visto, que os betas sufocaram sua loba, ela é ruiva. — Ruiva? Como pode ser? A deusa me deu uma loba vermelha? Por quê? As lobas vermelhas são tidas como mal presságio. São poucas e diferem dos lobos de pelos vermelhos, cujos cabelos de sua parte humana, são castanhos acobreados e não ruivos. Quando uma nasce, é sinal de benção ou maldição, trazem consigo o conhecimento das ervas e o dom da cura ou se são maltratadas, se transformam em bestas feras e trazem a morte aos seus opressores. Júlio sabia o que significava ter uma loba vermelha, lhe daria o status de rei, se ela não fosse criada como escrava. Que azar, pensou. — Eles não sabem que ela é minha companheira e não vamos contar. Tentarei amansá-la, conquistar sua confiança e seu amor, pode ser que ela não nos traga a maldição. Corina concordou, mas ainda tinha mais e precisava contar: — Ela não sabe de nada disso e suspeito de que alguns de seus homens de confiança, querem tirá-lo do cargo de Alfa e pretendem usá-la para isso. “ Ha ha ha, depois não diga que não avisei.” Riu Rufus, divertido com a desgraça do Alfa. “ Cale a boca, desgraçado, esqueceu que somos um, o que eu sofrer, tu sofre também.” — Isso é uma acusação muito séria e como a usariam para tal feito? — tentou o Alfa, disfarçar sua preocupação. — Todos o viram maltratá-la no banquete, vão acusá-lo de crueldade com os de sua própria espécie. — Então, vamos impedi-los, cuidando bem dela. — Sim, Alfa. — Com um suspiro, Corina aliviou o peso de seu coração.