Linhas Cruzadas

Erick's POV

A mensagem de Isa chegou no meio da madrugada. Eu estava sentado na varanda do meu apartamento, observando as luzes da cidade e tentando entender por que aquela inquietação não me deixava dormir. Quando vi o nome dela acender na tela, soube que algo estava errado.

Não era uma mensagem qualquer. Era um pedido silencioso de socorro.

> “Erick… precisamos conversar. Amanhã. Isso é maior do que eu imaginava.”

Senti um nó apertar meu estômago. Isa não pedia ajuda facilmente. Se ela dizia que era maior, era porque realmente era.

Na manhã seguinte, cheguei cedo ao escritório. A cidade ainda acordava, e os raios dourados da primeira luz atravessavam os vidros espelhados do prédio, refletindo sobre o chão polido. Meus assistentes já estavam a postos, falando sobre contratos e investimentos, mas tudo soava distante.

Enquanto todos falavam de números, eu só pensava nela.

Liguei para um dos meus contatos mais confiáveis, um investigador particular que trabalhava para minha empresa há anos. Pedi que fizesse uma varredura sobre o nome “Ethan G.”, relacionado à família Alencar e a registros de adoção antigos.

— Você acha que isso é sério, chefe? — ele perguntou.

— Isa não brincaria com algo assim — respondi, firme. — Preciso dessas informações ainda hoje.

Passei as horas seguintes tentando me concentrar em reuniões, mas a tensão era uma presença constante. Quando finalmente recebi a ligação do investigador, minha respiração ficou curta.

— Erick… tem coisa pesada aqui. O nome Ethan G. aparece em um registro de desaparecimento infantil de 2005. Ele foi declarado morto… mas nunca encontraram o corpo.

Fechei os olhos e apertei os punhos.

— Há mais — continuou ele. — Pouco tempo depois, uma menina com idade parecida foi adotada pela família Alencar. O nome original foi parcialmente apagado dos registros.

Isa.

Tudo fazia sentido. Ou começava a fazer.

À tarde, dirigi até o café onde costumávamos nos encontrar. Fiquei esperando na mesa dos fundos, onde tínhamos mais privacidade. O lugar estava calmo — a música instrumental suave, o cheiro de café recém-passado, luz natural entrando pelas grandes janelas. Quando Isa chegou, senti o mundo inteiro silenciar por alguns segundos.

Ela estava diferente. Não era mais a mulher frágil que vi dias atrás. Havia algo em seus olhos — uma mistura de medo, força e decisão. Sentei-me ereto, atento.

— Erick… — ela começou, com a voz baixa. — Eu encontrei coisas. Fotos. Documentos. E recebi uma ligação estranha. Falaram que… ele está vivo.

— Ethan? — perguntei direto.

Seus olhos se arregalaram. — Como você sabe desse nome?

— Eu fui atrás — respondi, sem hesitar. — E descobri que existe um registro de desaparecimento. Não quero te assustar, Isa, mas isso pode não ser coincidência.

Ela respirou fundo, passando as mãos pelos cabelos, nervosa.

— Eu tenho memórias… fragmentos. Risadas, vozes. Eu o conhecia. Eu sei que sim. — As palavras saíam entrecortadas, como se finalmente ela estivesse tirando um peso do peito. — E alguém estava me observando ontem. Na frente do prédio.

Meu corpo enrijeceu.

— Observando? — perguntei, já em alerta.

— Sim. Um homem. Capuz. E quando falei com a portaria, ele simplesmente desapareceu.

Paguei a conta sem pensar duas vezes.

— Vamos — disse, levantando-me.

— Para onde?

— Para o seu apartamento. Eu não vou deixar você sozinha com isso.

O caminho até o condomínio foi silencioso. Isa olhava pela janela, inquieta, enquanto eu analisava mentalmente cada possibilidade. Estava claro que alguém sabia que ela havia descoberto algo.

Assim que entramos no estacionamento, vi o mesmo carro preto estacionado na calçada. O mesmo que ela descrevera. Instintivamente, parei o carro alguns metros antes e desci. Isa ficou no banco de trás, abaixada.

— Erick… cuidado — ela sussurrou, mas minha mente já estava focada.

Me aproximei devagar. O carro parecia vazio, mas havia marcas de pegadas recentes no chão molhado. Quando cheguei à lateral, ouvi passos atrás de mim. Girei rápido. Um homem de capuz correu para o beco lateral. Fui atrás.

A perseguição foi rápida, intensa. Ele era ágil, mas eu conhecia bem aquelas ruas. Quando consegui encurralá-lo perto de uma saída lateral, ele jogou algo no chão — um pequeno envelope branco — e desapareceu em uma esquina estreita. Não consegui alcançá-lo.

Peguei o envelope e voltei até Isa. Ela tremia, mas seus olhos estavam fixos em mim, como se buscassem respostas. Dentro do envelope havia apenas uma fotografia: Isa e Ethan, crianças, de mãos dadas. No verso, escrito à caneta:

> “Você prometeu não esquecer.”

— Isso não é coincidência — falei, firme. — Alguém está tentando te mandar uma mensagem.

Ela respirou fundo, tentando conter as lágrimas. — Erick… quem está por trás disso?

— Não sei ainda. Mas prometo que vou descobrir. E não vou deixar ninguém te machucar.

Aquela noite não terminou ali. Coloquei dois seguranças discretos na portaria, e um carro ficou de plantão próximo ao prédio. Isa tentou disfarçar o medo, mas eu conseguia enxergar nos olhos dela: havia um turbilhão dentro de sua mente.

Antes de ir embora, ela me olhou com uma sinceridade que me desarmou.

— Obrigada, Erick… por estar aqui.

— Sempre estive, Isa. E agora mais do que nunca.

Quando entrei no carro e me afastei, olhei pelo retrovisor. A chuva fina voltava a cair. Mas no fundo da rua, parado sob um poste, o homem de capuz observava o prédio dela.

Ele não tinha ido embora.

E, de alguma forma, estava apenas começando.

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