CAPÍTULO 89
O dia em que uma porta fechada abriu um caminho.
Caio estava sentado na beira da cama, os cotovelos nos joelhos, as mãos entrelaçadas como se estivessem segurando o próprio coração para ele não despencar. Primeiro veio o farfalhar do tecido. Depois, o som seco do fecho do estojo de maquiagem. E então, o que sempre lhe doeu mais: o staccato dos saltos dela cruzando o corredor — um compasso seguro, resoluto, que dizia sem dizer: estou pronta.
Ele prendeu a respiração. Quis acreditar que ela voltaria ao closet, que pediria um casaco, que hesitaria. Mas os passos seguiram firmes. O rugido da maçaneta. Um segundo de suspensão. A porta de entrada fechou com um estalo que varreu a casa inteira. A vibração bateu na estrutura e voltou como eco no peito dele.
Ela não ia voltar atrás.
Caio levantou. Andou de um lado para o outro do quarto, como fera presa. Tinha vontade de correr escada abaixo, de amassar com as mãos o futuro que ela tinha decidido por ambos. Em vez disso, parou dian