CAPÍTULO 70
Entre o vapor do banho e o frio da França
A manhã começou igual às outras, como se o relógio da Sicília estivesse preso à mesma hora de sempre: telefonemas, três copos d’água, um iogurte por insistência do médico, James anunciando a hora de sair, a volta apressada para trocar de roupa, o almoço com empresários que falavam como se números tivessem perfume. Alinna, por sua vez, perfumava a própria presença com um sorriso discreto — o mesmo que já aprendera para ocasiões públicas —, e guardava para si os chutes brancos e pequenos do menino, que às vezes pareciam responder à música ambiente, às vezes a sacudiam por dentro como se pedissem outro tipo de canção.
O dia correu nessa cadência de ponteiros míopes. À tarde, um raio de sol atravessou a cortina do quarto e assentou nos frascos sobre a cômoda, quebrando em cores pálidas. Foi nesse recorte de luz que ela decidiu, sem decidir, começar a se arrumar para o jantar. Não por vontade; por reflexo. Achar o vestido, a rasteira q