CAPÍTULO 71
Quando o silêncio não explica, e nem a boca pergunta o porquê.
Longe dali, a noite tinha outro idioma. O trem cortava um trecho de campo antes de entrar na cidade-luz pela periferia. Caio estava de pé junto à janela do vagão, uma mão no encosto, a outra no bolso do sobretudo. O reflexo do próprio rosto no vidro vinha e ia, como se passasse por túneis de si mesmo. A vibração discreta no bolso tirou-o do transe.
Ele pegou o celular, leu o que houve de ler — o texto não vem ao caso; o peso, sim —, e guardou de volta, sem digitar resposta. O gesto foi consciente, controlado, como um homem que fecha a mão antes do soco.
Levantou o olhar. Do outro lado do vidro, Paris começava a se anunciar em pontinhos dourados, linhas de prédios, sombras de pontes. O Sena refletia um frio que parecia antigo. Caio respirou fundo e deixou o ar sair pela boca em uma nuvem pequena. O olho fechou um ponteiro de hesitação e abriu como quem escolhe.
— Aguenta mais um pouco… — disse para ninguém, pa