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O Segundo Ano de Silêncio

CAPÍTULO 128

Quando até os gestos pequenos viram trincheiras

ALINNA TAVARES

"Querido diário… continuo. Esse foi o meu segundo ano de casada com Eduard."

Quando ele chegava em casa, chegava sempre depois do necessário. A chave rodava com cuidado, como quem tem medo de acordar um animal. O corredor permanecia escuro até as luzes de presença acenderem por alguns segundos, só para lembrá-lo de que havia movimento. A gravata já vinha solta, o casaco no antebraço, o cheiro de bebida grudado no perfume de hotel que tentava parecer caro. A sala recebia seus passos amortecidos pelo tapete; a escada rangia no terceiro degrau — sempre no terceiro.

Ele parava diante da porta do meu quarto, o ouvido perto da madeira. O silêncio do lado de cá era um oceano sem vento. Do lado de fora, o celular vibrava sobre a cômoda com nome de mulher inventada. Eu ouvia. O som atravessava como faca fina. Ele desligava. Entrava no próprio quarto e deitava em uma cama previsível demais.

Do lado de cá, eu me encolhi
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