Otávio
O escritório era discreto. No fim de um corredor sem janelas, no terceiro andar de um prédio comercial que poucos conheciam. Álvaro Bastos atendia ali há vinte e dois anos. Conhecido por advogados de alto escalão, donos de empresas, gente que precisava de respostas e não podia deixar rastros.
Era exatamente o tipo de homem que eu procurava.
Ele me recebeu em silêncio, indicando com um gesto seco a cadeira à frente da mesa. Seu olhar era claro, sem cor definida, e parecia atravessar carne e pele. Não precisava de muitas palavras para ler uma história.
— Nome dela? — perguntou, pegando um bloco de anotações já meio amarelado.
— Lúcia Andrade — respondi. — Trabalha comigo. Quero saber tudo que puder sobre o passado recente dela. Família, histórico médico, policial. Qualquer mudança brusca nos últimos anos. Números de telefone, redes sociais. E, principalmente, se alguém anda seguindo ou ameaçando ela.
Álvaro levantou uma sobrancelha pela primeira vez.
— Você desconfia