Otávio
A tarde de quinta-feira se despedia lentamente, tingindo o céu com um tom alaranjado que parecia incendiar o horizonte. O vento soprava frio, carregando o cheiro de terra úmida misturado ao perfume discreto das flores do jardim. Apoiei-me na balaustrada da varanda e me permiti apenas… sentir. Há quanto tempo eu não fazia isso? Apenas respirar, sentir o vento, sentir o mundo?
Meus olhos naturalmente se voltaram para o ponto ao longe onde sabia estar a casa de Lúcia e dos tios dela. Não havia luzes acesas na varanda. Não havia movimento. Mas mesmo sem ver nada, minha mente viajou. O que será que a minha garota estava fazendo? Ela estaria deitada na cama, lendo algo? Estaria rindo com Sabrina, ou cuidando das coisas da casa? Será que ela tinha sorrido ao ler minha mensagem ou… será que a assustei?
Essa dúvida corrói.
Fecho os olhos e deixo o vento passar por mim, bagunçando levemente o cabelo e fazendo minha camiseta preta acariciar meu dorso. A calça de moletom se agita no vento,