Lúcia
Acordei diferente.
Não era exatamente mais feliz, nem mais leve. Mas havia algo novo em mim. Um jeito diferente de caminhar, de prender o cabelo, de passar o batom. Como se, pela primeira vez em muito tempo, eu estivesse me sentindo... mulher. Inteira. Desejável.
Ainda assim, o arrepio na nuca ao sair de casa me lembrou que o medo não havia passado. Era como se houvesse olhos invisíveis me seguindo. O motorista do aplicativo parecia confiável, e eu conferi a placa duas vezes antes de entrar.
O céu estava nublado, e o vento carregava o peso da minha intuição. Mas eu continuei. Eu precisava continuar.
Assim que entrei no saguão da empresa, o calor no meu rosto foi imediato. Otávio estava lá. Alto, elegante, encostado ao lado da recepção como quem comanda o próprio mundo.
E então, veio o impacto.
O corpo reagiu antes da mente. Um formigamento na parte mais íntima de mim, uma lembrança da noite anterior — da forma como me toquei pensando nele, dos gemidos