Fascinada

A sala de reuniões estava impecavelmente organizada, mas o ar parecia esquentar, carregado de expectativas. Alice distribuía os documentos da apresentação, sentindo a pressão pairar sobre a equipe. A nova fragrância de outono não poderia falhar, para ela tudo dependeria do impacto daquela reunião.

Ela foi pega de surpresa ao som da porta se abrindo. Chamando a atenção, algumas cabeças viraram-se para ver quem surgia.

Valentina parou, por um instante. Com um sorriso contido, observando os olhares voltados para ela.

Seu andar era impecável, fazia tudo ao redor perder importância. O vestido branco e formal lhe caía como uma segunda pele, delineando sua postura elegante e confiante.

Ao se aproximar da mesa, com um leve sorriso, destacando seus lábios vermelhos aveludados, sentou-se com graciosidade na cadeira da ponta, cruzando as pernas sutilmente. Pousou a bolsa tiracolo ao lado, retirando os óculos com um gesto fluido, deixando-os sobre os papéis.

Seus olhos se dirigiram ao marido, depois aos demais presentes, como se absorvesse todos os olhares e os catalogasse mentalmente.

— Perdão... faltava só eu? — Valentina perguntou, com serenidade, olhando outra vez ao redor enquanto ajeitava os cabelos.

Alice ficou apreensiva, não esperava por ela. Por um instante se perdeu em pensamentos: como aquela mulher dominava o espaço com tanta facilidade? Até as luzes parecem se ajustar à sua presença.

— Então, vamos começar ou não? — Retrucou Valentina, com um tom firme que fez todos se posicionarem.

Carlito, acostumado com a aura magnética de Valentina, não se intimidou. Acenou com a cabeça para Alice, fez uma pausa estratégica e sorriu, antes de iniciar a apresentação para a campanha do mês. Seu entusiasmo era evidente, enquanto deslizava os dedos sobre o tablet explicando a proposta para os sócios e colaboradores.

Valentina, chamou a atenção de Alice novamente ao pegar os óculos de grau. Depois de colocá-lo com precisão, seus olhos dançaram sobre os papéis, analisando os dados e estratégias com calma felina. O olhar era de águia. Os ombros se mantinham retos, com a postura inclinada e tranquila. Ela corria fazendo anotações com precisão.

Até então, Alice a via como a esposa do chefe. Alguém superficial, pela beleza, aparições sociais e destaques de moda. Mas agora, diante dela, se destacava completamente: foco, domínio e até genialidade. Valentina parecia o tipo de mulher que sabia bem o que queria e como conseguir. O olhar parecia dizer: “ninguém me supera. Estou pronta para qualquer desafio.” Naquele instante, a assistente entendeu porque o chefe era tão fascinado pela esposa.

— Hmm... — murmurou Valentina, os olhos fixos nas propostas. — Tá faltando alguma coisa. O conceito da campanha parece relevante. Mas precisamos ir além da ideia de renovação.

Carlito assentiu com os lábios comprimidos, cordial. Ela continuou:

— O outono não apresenta só uma mudança de estação. Vai além, é uma transição. Simboliza a captura de um momento a dois, como o desapego do velho para algo novo. Tem que ser marcante. E é isso que a fragrância precisa trazer.

Aquilo era típico dela. Carlito sorriu, olhando para um ponto fixo na mesa. Por mais que às vezes achasse as intervenções provocativas, reconhecia que a visão dela era impressionante.

— Claro, Valentina. Você tem toda razão, vou buscar ampliar isso com atenção.

— Não queremos que o cliente compre a ideia de um perfume similar, mas que esse seja "o perfume" de destaque. Quero que seja fiel à sensação que ele remete, que todos sintam essa conexão. Não esqueçam que a nossa empresa remete ao luxo exatamente pela excelência dos cosméticos.

Victor recostou-se na cadeira um tanto pensativo, acrescentou:

— A nova fragrância, como você mesma avaliou, busca exatamente isso: exclusividade. Mas tem que ter leveza também, para transmitir essa sensação mais familiar e aconchegante.

— Entendo meu querido, mas ainda tá faltando alguma coisa... — ela inclinou levemente a cabeça, tentando atiçar. — A essência precisa se conectar ao emocional. Tá faltando um detalhe que torne essa fragrância de fato marcante.

Alice estava atenta a cada palavra de Valentina, como ela era estratégica. Inteligente. E um tanto direta. Não estava ali para ser um enfeite ao lado do marido. Sua pontuação era precisa, e os novatos percebiam bem isso. Ela influenciava decisões, comandava a atenção, além de fazer os profissionais duvidarem da sua própria capacidade e conceitos.

Como uma luz que se acende, encostada no canto, Alice teve uma ideia e decidiu compartilhar:

— Perfumes não são somente aromas. Devem gerar memórias, aquela sensação prazerosa, de lembranças aconchegantes. Então, com uma combinação excêntrica, podemos despertar esses pontos que geram sensação de prazer e bem-estar.

A equipe vibrou com a ideia. Valentina lançou um olhar sutil para Alice, em aprovação. Um sorriso quase imperceptível curvou seus lábios, e logo voltou a se concentrar nas demais opiniões. Foi um gesto breve, mas o suficiente para que sentisse a pele formigar.

Quando a reunião terminou, todos começaram a sair, voltando aos seus postos. Valentina, manteve-se no centro das atenções. Em um gesto delicado, puxou Victor pelo braço, olhou-o nos olhos com um sorriso cativante, entrelaçando suas mãos no braço dele. Saíram grudados, como um casal de namorados apaixonados sob holofotes invisíveis.

Alice permaneceu na sala. Seu trabalho continuava: recolher os documentos, organizar tudo e levá-los para o CEO assinar. Após cumprir a tarefa com eficiência, desligou as luzes da sala e seguiu pelos corredores até a cobertura, o escritório da presidência.

Ao chegar a porta parou por um instante.

Victor e Valentina estavam no meio de uma discussão, cheia de provocações. Para ela não parecia uma briga, mas tinha uma tensão no ar. As palavras eram rápidas demais para Alice conseguir entender, talvez outro idioma. A entonação de Valentina era provocativa, mas super controlada. Victor, por sua vez, não. Ele gesticulava tentando se conter. Os olhos intensos, diziam mais do que sua voz.

Alice continuou parada, pensando se entraria ou não. Olhou para a hora, alguns papéis que tinham que ser assinados e anexados com certa urgência. Como ela poderia aparecer num momento íntimo e, ao mesmo tempo, perigoso como aquele?

Mas Victor percebeu e rapidamente disfarçou:

— Alice, entre. Os papéis, por favor. — Pediu, com um tom polido, preocupado com o que ela poderia ter presenciado.

Ela se aproximou devagar e deixou os documentos sobre a mesa, recuando um passo.

— Desculpe, eu... já posso ir? — Retrucou com a voz abafada, sentindo-se desconfortável.

Victor concordou. Mas em um gesto rápido, Valentina girou a cadeira e inclinou a cabeça para a assistente.

— Alice, por favor, espere um momento.

A voz de Valentina era serena, mas havia um certo tom que fazia tudo silenciar. Ela a fitou com precisão, os olhos afiados analisando cada gesto da outra. Alice sentiu um frio percorrendo o corpo, não pelo olhar. Mas por algo que a desafiava... A provocação disfarçada.

— Eu quero te fazer uma proposta irrecusável. — Disse Valentina, enigmática.

A atmosfera era fria, Alice ficou confusa. Aquilo a pegou de surpresa. Não era a provocação que imaginou.

— Uma proposta? Que proposta? — Repetiu, com a voz mais fina do que o normal. Ela odiava quando sua curiosidade a traía.

Valentina sorriu levemente, mas não disse nada. Apenas se recostou na cadeira, ajeitou os cabelos com um gesto suave, e voltou o olhar provocativo para Victor. Como se estivesse esperando o momento certo para revelar o que tinha em mente.

Alice recuou mais um passo em direção à porta, indecisa. Devia continuar ali? Ou melhor, fugir enquanto tinha tempo? Para ela, aquilo era tanto sedutor quanto perigoso. Isso ascendia um alerta. Valentina gerava um tipo de desejo e encantamento que a paralisava.

A situação parecia desastrosa. E embora o instinto de Alice gritasse para manter distância, ela sabia que era tarde demais... não dava para ignorar. Naquele momento só queria descobrir o que a deixava hipnotizada por Valentina. E para descobrir isso precisava se aproximar.

“Mas afinal... o que Valentina quer propor?”

Essa foi a pergunta que martelou na mente de Alice.

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