Diferente de Valentina, que exalava um magnetismo intenso, Alice era mais tranquila como uma brisa suave em meio a uma tempestade. Valentina sabia que não era qualquer pessoa que trabalhava para seu marido, só pessoas altamente eficazes e de confiança. E isso despertava o desejo dela de explorar o mundo de Alice. O que ela tinha de tão especial?
— Você é publicitária, certo? — Valentina perguntou, com um ar de interesse. — Sou sim… — Alice respondeu, sem entender aonde aquilo ia levar. Valentina sorriu de canto e se levantou, chegando mais próximo de Alice. — Minha proposta é simples, quero que você trabalhe comigo. O silêncio preencheu a sala. Alice piscou, confusa. Victor arregalou os olhos, indignado. Não podia acreditar no que acabara de ouvir. Em um movimento instintivo, puxou Valentina pelo braço, obrigando-a a encará-lo. — Que palhaçada é essa? Como você ousa ser cara de pau! — Disparou, com os olhos faiscando. — Fazer uma proposta dessas para minha assistente?! Valentina manteve a postura firme e serena. Sorriu de canto, como se o desafiasse. — Eu pago em dobro… Não, o triplo! — Afirmou, dando um passo à frente. — O suficiente para ter conforto, consiga alugar um imóvel descente. Só para você. Próximo do trabalho. Ah! Ainda terá um escritório especialmente para você. Vai ficar ao lado do meu. Pense bem... É uma proposta irrecusável... O que acha? Victor deu um sorriso incrédulo, com a proposta da sua esposa. — Escuta aqui, Val: eu te proíbo de fazer qualquer tipo de tentativa. Ela só vai se eu permitir. Nunca vou deixar você roubar a minha assistente... — Isso é modo de me tratar? Não seja bobinho, amor. Vamos levar em conta a opinião dela. Ela mesma vai decidir o que é melhor... com quem quer ficar. O silêncio se instalou. Alice estava bem nervosa, sentia como uma telespectadora e, ao mesmo tempo, encarava os olhares deles sobre ela, esperando uma resposta. Seu coração batia com mais intensidade que o normal. Então, lhe surgiu uma ideia brilhante. Respirou fundo, com receio do que estava prestes a lançar. — Vamos fazer o seguinte... eu posso trabalhar para os dois. O que acham? — Sugeriu, tentando soar confiante. — Fico meio expediente com cada um. Como assistente e agente publicitária. Nisso, ninguém sai perdendo. Todos saem ganhando. Ela cogitou que algum deles pudessem recusar a qualquer momento. Afinal, eles pareciam estar em um duelo velado, e ela entrou bem no meio desse fogo cruzado. Mas para sua surpresa, aceitaram a oferta. Valentina sorriu, entusiasmada saltou do lugar. — Perfeito! Até que você é esperta. Eu vou querer o período da tarde… — disse, ajeitando os cabelos. — De manhã, estou ocupada e gosto de trabalhar em silêncio. Alice arregalou os olhos, assustada com a possibilidade. — Então... significa que isso é verdade? — Exatamente. Contratada. Aliás, quero que se mude quanto antes! — Valentina declarou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Quero te manter por perto. Victor suspirou, tenso, massageando as têmporas.— Você só pode estar fora de controle, Val. — Murmurou.
— Relaxa, querido. Você não vai se arrepender. — Piscou, provocativa. — Eu prometo que vou te compensar muito bem... por tudo.Após, Valentina foi embora. Alice estava boquiaberta, ainda processando os últimos acontecimentos, de como se meteu naquela situação. Pensativa, seguiu para o refeitório e foi almoçar com suas amigas. Então, veio a notícia como uma verdadeira bomba.
— Você tá me dizendo que vai trabalhar pros dois?! — Indagou Júlia, perplexa, balançando a cabeça. — Infelizmente… — Alice suspirou, comendo um pedaço de carne. — Mais trabalho, estresse... nem sei como vai ser. — Não tem noção do que isso significa? Vai ter a oportunidade de ser cortejada com um alto preço. Participar dos eventos mais badalados, guardar os piores segredos, se duvidar até… participar dos "banquetes". — Dora concluiu com malícia, rindo. — Eu só sei que preciso de uma bebida bem forte para lidar com isso. — Alice brincou, mas, no fundo, estava ansiosa. Júlia cruzou os braços, inclinando-se sobre a mesa, ao balanço dos seus cabelos cacheados, definidos, com um olhar atento às fofocas. — Sério, amiga! Você já parou para pensar no que acabou de aceitar? Ela soltou outro suspiro, girou a colher dentro da xícara de café, observando o líquido escuro girar. — Como? Nem tive tempo para isso. Mas, penso em contra-atacar. Parece a única saída para não acabar causando uma guerra ou eu não sair prejudicada nessa história. Porque do jeito que ela aparenta ser, se eu recusasse era capaz dela ferrar com a minha carreira. Dora soltou uma risada curta. — Eles têm influência e poder, não dá para negar. Só que agora você tá no meio desse fogo cruzado. Não pode dar bobeira de jeito nenhum. Amiga, acha mesmo que Valentina fez essa proposta simplesmente por que gostou do seu trabalho? Alice desviou o olhar, mordendo o lábio, angustiada. No fundo, sabia que a esposa do chefe era mais esperta do que aparentava. Possuia um magnetismo que a assustava. — Eu… Eu não sei. Mas o que eu poderia fazer? Recusar? Victor teria ficado satisfeito, mas e ela? Ela não ia me deixar em paz. O jeito que ela me olhou… Foi como se estivesse jogando e até soubesse o próximo movimento que eu iria dar. Júlia balançou a cabeça. Em seguida, arregalou os olhos, pedindo para elas se aproximarem mais, e falou sussurrando: — Vem cá, e se... ela tiver desconfiando de você? Pode ser que ela, sei lá... ache que você tem um caso com o CEO... é a amante, sabe. Ou então... queira te usar como peça do jogo para alguma coisa do tipo. — Não acredito... Estão me fazendo acreditar que aceitei fazer o pacto com o diabo? — Alice questionou, seu tom não tinha tanta convicção. — Não é um pacto definitivo... mas um teste para saberem se você é digna. — Dora supôs, com audácia. — O que importa agora é: você consegue lidar com essa pressão? São dois chefes, com personalidades fortes. Amiga, confia em mim: você está sendo o novo investimento deles. Alice apertou a xícara entre os dedos, atônita, com os olhos arregalados, processando as informações. — Isso é sério, gente... Eu não vou conseguir dormir de tanta ansiedade. E a culpa é de vocês! Mas agora que já aceitei... — Ela fez uma pausa, olhou pela janela. — O jeito é me preparar e ser esperta. Eles podem até tentar fazer os seus joguinhos, mas também eu sei blefar. Vamos ver quem é pário para quem. Olha que eu sou capaz de nocautear corações. Júlia soltou um riso incrédula. Ela era amiga de Alice desde o tempo da faculdade e a considerava ingênua, não conseguia enxergar essa futilidade de malícia na amiga. — Então é oficial. Alice agora tem uma vida dupla. Vamos ver quem é pário para esse jogo. Dora ergueu a xícara num brinde brincalhão. — À nossa amiga, que está prestes a descobrir como é trabalhar para um casal Lancaster, em pleno conflito. Prevejo que vai ser a coisa mais vibrante e intensa da sua vida. Alice suspirou e bateu a xícara contra a de Dora, aceitando a sentença. — Então, que Deus me ajude a suportar o jogo secreto!