Alice sabia que trabalhar para Victor Lancaster, um CEO implacável e controlador, exigia disciplina. Mas ninguém a preparou para Valentina Lancaster. Esposa ambiciosa, dona de uma beleza e personalidade enigmática. Uma presença forte por onde passa, até mesmo impossível de ignorar. No começo, Alice achava que tudo não passava de charme inocente de uma mulher extrovertida. Mas, Valentina não fazia nada por acaso. Os toques sutis, os sorrisos carregados de segredos, entre olhares demorados… tudo nela era intenso, como uma fragrância marcante. Seria apenas assuntos de trabalho, provocação ou um convite silencioso para algo a mais? Alice tenta ignorar, mas Valentina sabia exatamente como dobrar vontades. E quanto mais ela se rende, mais percebe que está presa em algo maior — seria isso um possível triângulo de poder, desejo e manipulação, onde ninguém escaparia ileso? Victor estaria envolvido ou era mais uma vítima, o que ele fará? E, no final, quem realmente está no controle desse jogo?
Ler maisO coração disparou, antes mesmo que ela abrisse os olhos. O despertador tocou pela terceira vez, até que Alice finalmente se levantou, em um salto, como se tivesse levado um choque. Tinha passado a madrugada acordada em meio a resolução de problemas de projetos do seu chefe.
A garota correu para o banheiro, e o espelho lhe devolveu o reflexo: os fios de cabelo loiro-mel um caos, os olhos âmbar arregalados em suto, vencido pelo cansaço, escovou os dentes com pressa e jogou água gelada no rosto. Não havia tempo para grandes ajustes, então fez um coque improvisado, colocou sua bolsa no ombro e desceu as escadas às pressas, desviando do seu irmão mais novo, Tomás, que bloqueava a passagem com uma mochila gigante.
— Droga, vou chegar atrasada de novo! — Resmungou, conferindo a hora.
Morar com os pais e dois irmãos, um de doze e outro de vinte anos, significava uma rotina caótica. Entre discussões sobre quem usaria o banheiro primeiro e a briga por café da manhã, sair no horário era quase um milagre.
— De novo? Assim vai acabar desempregada, — zombou Benício, o irmão mais velho. — Já aviso, nem adianta pedir carona.
— Cala a boca, Benício! — Alice pegou uma maçã da mesa e saiu quase tropeçando na porta.
A jovem trabalha na Lancaster Enterprise, uma empresa que moldou sua vida nos últimos anos. Começou como estagiária no setor de publicidade, insegura e cheia de dúvidas. Mas a determinação a levou longe. Foi efetivada e, um ano depois, promovida a assistente pessoal do CEO.
Victor Lancaster.
A simples lembrança dele já fazia seu estômago se contrair. Não só pelo cargo, mas pela figura que ele representava. Falando no chefe, o tipo de homem moreno com um porte atlético e olhar sério. Um tanto cauteloso, mas que consegue dominar os negócios com maestria. Assim, como tudo ao seu redor. Exigente? Às vezes... até demais.
Alice chegou na empresa ofegante, o som dos saltos ecoando apressado no piso de mármore do lobby. Ajeitou a blusa, prendeu a respiração e entrou no elevador. No último andar, o ambiente mudava de clima. Era silencioso, sofisticado, com tons neutros e suaves, e um perfume cítrico quase imperceptível pairava no ar.
Alice seguiu até sua mesa, ligou o computador e começou a organizar os documentos do dia. Digitava concentrada quando um cheiro diferente invadiu o ambiente. Alguém adentrou pelo corredor com um perfume diferente do habitual, uma fragrância adocicada, com um toque suave e exótico. Ela ergueu os olhos. E parou. A figura era ilustre. Fascinante.
Uma mulher parada bem à sua frente. Alta, esguia, pele clara, olhos verdes que pareciam analisar cada detalhe como se estivesse vendo algo raro — ou perigoso. Os cabelos negros, como ébano, perfeitamente alinhados, até os ombros. Usando um conjunto de alfaiataria azul e um salto silencioso, elegante.
Valentina Lancaster.
Alice sentiu o ar escapar. Elas ainda não haviam sido apresentadas. Seus lábios carnudos esboçaram um sorriso sutil, perigoso demais para ser apenas educado. Engoliu em seco. Nunca tinha se sentido tão, observada. A mulher ficou analisando-a sem pressa, como quem avaliasse um produto de valor estimado.
— Então é você. — Valentina sorriu, lenta, deliberadamente. — Gostei.
Sua voz era suave, mas havia algo ali. Algo que não combinava com a doçura do tom.
— Perdão, o quê? — Alice piscou, confusa.
Valentina deu um passo à frente, diminuindo a distância entre elas.
— Você é a assistente do meu marido, não é?
A voz dela era expressiva e sedosa, carregava um tom que a assistente não conseguia compreender. Ela sentiu o coração pulsar mais rápido, incerta sobre a intencionalidade daquele olhar afiado.
— Prazer, Valentina — disse ela, inclinando levemente a cabeça. — Qual é o seu nome?
— Alice… Alice Consuelo Martini. É um prazer, senhora.
Valentina soltou uma risada leve.
— “Senhora?!” Ah, não! Por favor, não me faça sentir velha. Não precisa disso, A-li-ce. — Ela repetiu cada sílaba como se estivesse saboreando aquilo. — É... um nome delicado, combina com você.
Ela se aproximou e, com delicadeza, tocou o canto do olho da garota, esfregando levemente o canto de seu olho.
— Seu rímel estava borrado.
Alice congelou.
— Obrigada. É que saí com pressa hoje, acabei cometendo esse deslize, não percebi, — tentou sorrir, desconcertada.
Valentina sorriu de volta, lenta e calculadamente. Ela ajeitou a bolsa no ombro e olhou ao redor como se estivesse inspecionando o território novamente.
— Preciso ver meu marido agora — disse, com um brilho afiado nos olhos. — Ele fez questão que eu passasse aqui. Urgentemente.
A ênfase na última palavra fez Alice engolir em seco, apertando as mãos no colo. Ela desviou o olhar, desconfortável. Valentina parecia estar se divertindo com a sua reação. Valentina virou-se para a porta do escritório de Victor, seus saltos ecoando suavemente pelo chão de mármore polido. Antes de entrar, olhou por cima do ombro:
— Foi um prazer conhecê-la, Alice! — Sua voz ecoou moderadamente, quase um sussurro íntimo. — Tenho a sensação de que nos daremos super bem.
Desaparecendo, ao fechar a porta de vidro fosco do escritório. Alice permaneceu estática. O impacto do encontro ainda pairava sobre ela como uma névoa. Precisava respirar. Seu estômago revirava. Então, desceu discretamente para tomar ar. Ainda sentia o perfume de Valentina impregnado no ar ou talvez fosse só impressão. Aproveitando, ela se dirigiu à copa da empresa e serviu um copo d’água com mãos trêmulas. Mas, antes mesmo de conseguir beber a água, ouviu passos apressados e saltos ecoando se aproximando.
— Menina... pelo amor de Deus, o que a esposa do CEO veio fazer aqui?! — Os olhos castanhos arregalados, com a voz em um sussurro histérico.Era Dora, a secretária mais antenada da empresa. Ela se aproximou, segurando o braço de Alice, como se estivesse prestes a ouvir um grande escândalo.
— Você está falando da… Sra. Lancaster? — Alice piscou, ainda estava meio aérea.
A amiga suspirou, impaciente.
— Quer arrumar confusão? Não chame ela de senhora, não esqueça! — Dora alertou. — Aquela ali é uma sedutora nata. E raramente pisa aqui por acaso, saiba disso.
Alice negou com a cabeça, ainda perdida na conversa.
— Como assim? — Perguntou, franzindo a testa.
— Quando ela aparece, alguém sempre se queima. — Dora abaixou a voz, como se estivesse prestes a revelar um segredo sombrio.Antes que ela pudesse continuar, outra voz entrou na conversa.
— Aquela lá não é flor que se cheire! Aí daqueles que se envolvem com ela.
As duas viraram-se. Era Dona Santa, a zeladora da empresa. Experiente, discreta... mas cheia de histórias. Ela se aproximou com os olhos estreitos de desconfiança.
— O que a senhora quer dizer com isso?
— O assistente anterior sumiu depois de uns boatos de que tava envolvido com ela.
Alice sentiu um arrepio desconfortável. — Envolvido, como? Que boatos são esses? — Alice perguntou, a voz mais fina do que gostaria.Dora e Dona Santa trocaram olhares significativos. A amiga olhou ao redor, antes de se aproximar mais.
— Um fato escandaloso! — Dora cochichou, arregalando os olhos. — Dizem que Raul, o ex-assistente, teve um caso com Valentina. — Ela acrescentou, — Depois disso, puff! Sumiu. E era de confiança, viu? Era braço direito do Victor. E do sogro também.
Dona Santa fez um som de desdém.
— E ainda sendo pobre. O Sr.Ramon nunca iria aceitar aquele tipo de relacionamento. Depois que ele saiu, o chefe ficou mais esperto. Contrata só mulheres... ou homem que não gosta de mulher, se é que me entende. Por isso, a dona perdeu o interesse de continuar vindo para cá. Alice sentiu um frio na barriga.— Mas Victor é casado com ela... parecem apaixonados. Ele a ama, não?
Dora soltou uma risada abafada.
— Apaixonado é pouco. Ele é obcecado. E ela sabe disso. Se aproveita da situação e brinca com ele como bem quer. Tenho para mim que isso é intencional. Pura pirraça.Dona Santa acrescentou ainda:
— Amor é uma palavra complicada quando Valentina está envolvida. Ela brinca com as pessoas.
Alice ficou em silêncio. O sorriso que a mulher lhe deu, aquele olhar afiado, tudo voltou à mente como uma onda.
— Então por que ela veio aqui hoje? — perguntou, quase para si mesma, com os olhos assustados.
As duas se entreolharam, e Dona Santa murmurou, com os olhos estreitos: — É isso que me intriga. Porque, se tem uma coisa que sei, é que o patrão não gosta de ser surpreendido. E hoje... ele fazer questão de chamar ela aqui?! Aí tem, viu.Alice mordeu o lábio, sentindo o estômago revirar outra vez.
— Então, tá... tenho que voltar. Até a próxima!
Partiu nervosa, sem saber o que estava dizendo ao tentar compreender aquela situação tensa. O olhar curioso de Valentina a observando, atentamente, dos pés a cabeça. Aquele sorriso… aquilo não era só um sorriso. Parecia mais um aviso. E se fosse um aviso para ela, o que a esperava?
O investigador Kim não conseguia afastar a sensação de que algo estava sendo jogado diante de seus olhos apenas para distraí-lo do que realmente importava. As últimas semanas foram um turbilhão, e a notícia mais recente apenas confirmava que a trama em torno do desaparecimento de Valentina e Victor estava longe de ser linear. Era algo bem intrigante. Na manhã seguinte ao vazamento da matéria na imprensa, a polícia foi informada de que o porteiro do hangar onde ficavam os jatinhos da família havia sido encontrado em um sítio abandonado, acompanhado de Radiam, o cavalo. Quando chegaram lá, o homem estava sentado à sombra de um galpão, com o olhar perdido e respiração ofegante. Respondia em frases soltas, misturando tempos, como se quisesse falar e ao mesmo tempo apagar o que sabia.O investigador sabia ler aquele tipo de postura. Não era apenas nervosismo: parecia medo encoberto. Talvez medo de gente perigosa. — Dona Valentina... ela pediu pra cuidar do animal — ele começou, voz trêmu
A fazenda estava mergulhada num caos abafado. Uma tensão invisível escorria pelas paredes e se infiltrava nas vozes dos funcionários que, espalhados pelos arredores, varriam cada centímetro em busca de qualquer sinal de Valentina. Nenhum rastro. Nenhuma resposta.Dentro da sede, o clima era de desespero contido. Alice, Silvana e alguns familiares tentavam organizar as ideias entre ligações, hipóteses e perguntas que ninguém conseguia responder. Foi nesse caótico momento que um telefone tocou. Ramon, com os olhos vermelhos, levantou-se em um impulso automático e foi para o escritório. Ele fechou a porta, e o que ouviu do outro lado da linha fez seu sangue gelar.Ramon não saiu de lá, mas antes que alguém fosse atrás. A porta da frente se escancarou com violência, e o som seco rompeu o silêncio.— Gente! Vão para sala de cinema! Agora! — A voz de Rique rompeu, exaltada e quase tremendo. — É urgente!Ele correu sem esperar que alguém perguntasse algo. Era como se as palavras estivessem em
A madrugada repousava densa sobre a fazenda, mergulhando a propriedade em um silêncio quase sepulcral. A não ser pela luz amarelada de um único cômodo, todo o casarão estava imerso em sombras. Rique e Ruthe haviam chegado sem fazer alarde, ele havia estacionado discretamente o carro na lateral da casa. Os pneus mal estalaram nas pedras da entrada.Ruthe, elegante em seu salto médio e vestido de seda azul-petróleo, parou diante da porta do quarto de Valentina. O relógio de parede do corredor — antigo, com ponteiros dourados e vidro embaçado pelo tempo — marcava pouco depois das 3h da manhã. Ela hesitou um segundo. Sabia que aquele horário era suspeito, mas também sabia que o que carregava nas mãos mudaria o rumo de muitas coisas.Com o dedo enluvado, deu duas batidinhas discretas na porta. Era como um código antigo entre elas. Pequenos sinais construídos desde a infância, quando brincavam de espionagem e contavam segredos. A prima abriu a porta com o cenho franzido, os olhos semicerrad
As estrelas refletiam no céu como pequenas fagulhas de esperança numa madrugada carregada de segredos. O brilho delas piscava como um sussurro distante, um lembrete de que algo ainda pulsava dentro dela. Valentina sentia as pálpebras pesarem, como se carregassem o próprio mundo. A brisa gelada tocava seu rosto, como a delicadeza de um beijo, e por um instante, ela se perguntou se estava sonhando.Foi quando o brilho da manhã a despertou. Ela foi pega, desprevenida, por quem não esperava. Era como se o passado tivesse se dissolvido como névoa, e agora o presente batia à porta com a força de uma tempestade.Ela só queria sair dali antes que fosse tarde demais.HORAS ANTES...No alto da escada, Victor estava no meio de uma ligação, com um movimento contido, olhando ao redor. Seus olhos frios desciam em direção ao salão, enquanto o murmúrio dos convidados se misturava à música ambiente e às luzes douradas que os envolviam.— Execute o plano B — ordenou em voz baixa. — Agora!Carlito, para
Ao chegar no galpão, Oliver desligou os faróis e manteve o carro a uma distância segura. A noite era densa, e o som do mar e dos grilos mal conseguia romper o silêncio denso do lugar. Ele observou atentamente enquanto o homem mascarado abria o porta-malas, pegou algo — ou alguém — colocando no ombro, levou até a estrutura velha, com as luzes interiores apagadas.O coração de Oliver martelava no peito. Aquilo não era uma entrega comum, era sequestro, aquilo era um alerta. Com os punhos cerrados, desceu do carro e, com passos lentos, aproximou-se da lateral do galpão. Forçou-se a controlar a respiração e o medo. Olhou por uma fresta entre as tábuas corroídas e, no breu, enxergou um vulto amarrado, caído no chão de concreto.O leve reflexo de uma mulher arrastada para um contêiner, o fizeram agir. Sem pensar duas vezes, ele se afastou, fez a volta e encontrou uma pequena janela nos fundos. Forçou a madeira podre com a chave de roda que trazia no porta-malas e entrou silenciosamente. O ho
A luz suave da suíte refletia o brilho discreto de Valentina, terminando de ajustar os brincos diante do espelho. Depois, foi até a mesa da cabeceira da cama, pegou o celular e discou para o irmão:— Rique... Já estou pronta. — Sua voz carregava firmeza, mas o aperto no peito denunciava o receio.Ela desligou e ficou alguns segundos parada, olhando o próprio reflexo. Respirou fundo, fechou os olhos. “É só uma festa…”, pensou. Então, reuniu coragem, girou a maçaneta, e saiu da suíte.O corredor do andar estava estranhamente silencioso. A iluminação morna e os tapetes espessos abafavam até mesmo o som dos seus saltos. Assim que deu os primeiros passos, seu corpo enrijeceu.Havia um homem parado a poucos metros. Alto, aparentemente musculoso e estranhamente imóvel. Estava vestido com uma fantasia escura e uma máscara que cobria completamente o rosto. Usava luvas pretas. Nenhuma parte de sua pele estava visível.O homem de preto.Valentina parou bruscamente. O coração acelerou como um tam
Último capítulo