A madrugada repousava densa sobre a fazenda, mergulhando a propriedade em um silêncio quase sepulcral. A não ser pela luz amarelada de um único cômodo, todo o casarão estava imerso em sombras. Rique e Ruthe haviam chegado sem fazer alarde, ele havia estacionado discretamente o carro na lateral da casa. Os pneus mal estalaram nas pedras da entrada.
Ruthe, elegante em seu salto médio e vestido de seda azul-petróleo, parou diante da porta do quarto de Valentina. O relógio de parede do corredor — antigo, com ponteiros dourados e vidro embaçado pelo tempo — marcava pouco depois das 3h da manhã. Ela hesitou um segundo. Sabia que aquele horário era suspeito, mas também sabia que o que carregava nas mãos mudaria o rumo de muitas coisas.
Com o dedo enluvado, deu duas batidinhas discretas na porta. Era como um código antigo entre elas. Pequenos sinais construídos desde a infância, quando brincavam de espionagem e contavam segredos. A prima abriu a porta com o cenho franzido, os olhos semicerrad