A noite caiu pesada sobre o morro. As luzes dos postes piscavam como corações em alerta. Um zunido de rádio cortava o silêncio, e, no alto da viela mais estreita, um sussurro se espalhava entre os becos:
— A polícia subiu.
Na ONG Raízes do Morro, Theo ainda guardava os materiais da última atividade do dia. As crianças já haviam ido embora com os voluntários responsáveis, mas o suor da tarde permanecia colado à pele. Camiseta úmida, corpo tenso.
Ele sentiu o ar mudar. Pesado. Elétrico. Como o céu antes da tempestade.
— Tio! A movimentação tá estranha! — um dos meninos que ajudavam na arrumação entrou correndo, olhos arregalados. — Vi gente armada subindo lá em cima!
Theo largou os blocos de EVA na mesa. Do lado de fora, as vozes abafadas viravam gritos. Passos apressados. O barulho do rádio. Sirenes. Corações em pânico.
Isis surgiu na porta da ONG como um raio contido. Coturno, moletom, olhar em brasa.
— Recolham as crianças! Todos pro protocolo emergencial! — ela gritou para os