A madrugada chegava devagar, sem pressa, como quem entende a dor de quem precisa dela longa. Na clínica improvisada da ONG Raízes do Morro, as luzes estavam baixas, e o silêncio era tão pesado quanto a esperança.
Zóio, o moleque que todos juravam ter se perdido, agora estava ali. Vivo. Mas frágil como nunca. O corpo dele parecia menor, mais magro, desidratado, coberto de hematomas e cicatrizes novas. A bala havia sido retirada. O sangue doado — por Cebola, Barril e Theo — já corria nas veias dele. Mas ainda não havia sinal de consciência. E isso esmagava o peito de cada um.
Isis não desgrudava da beirada da cama. As mãos cruzadas sobre o colo, os olhos fixos no rosto dele.
— Ele nunca chegou atrasado em reunião nenhuma — ela murmurou.
Neumitcha, que estava sentada ao lado, com uma manta sobre os ombros, olhou pra ela com ternura:
— Nem todo mundo se atrasa por falta de vontade, minha rainha. Tem gente que vem cambaleando pela estrada da vida. E ainda chega com honra.
Theo encost