Ele deixou seu país por causa da guerra Ele está quebrado sentimentalmente e não quer mais voltar para seu país de origem. Só que para isso ele precisa do Cartão do Residente e a única maneira de conseguir isso é se casando. Ele precisa ficar pelo menos um ano casado com a garota para não levantar suspeitas da imigração. Amanda Jones é uma romântica incurável. Seu sonho sempre foi se apaixonar por um homem agradável, mas seus planos foram adiados por causa de uma dívida e ela acabou aceitando o casamento de conveniência com o lindo árabe. Eles apostam na pouca convivência que terão juntos, já que trabalham em turnos diferentes. Mas o inesperado acontece quando a pandemia provocada por um vírus, considerado letal, fecha os comércios e os obrigam a convivência. Esse livro mostra tudo o que pode acontecer quando dois estranhos aceitam se casar.
Ler maisO simples fato de pensar em me casar com um estranho e morar com ele me arrepia.
―Não sei se farei isso. Parece algo de outro mundo para mim.
―Algo de outro mundo? Isso é mais comum do que você pode imaginar. É um casamento de conveniência. Simples assim ―Samantha comenta.
―Dividir o mesmo teto...não sei não.
―Amanda, meu irmão conhece bem o rapaz. Ele é uma boa pessoa.
Ela diz isso pois Vitor trabalha com Karan em um restaurante especializado em comida árabe. Vitor é chefe de cozinha e Karan garçom, mas ainda assim tenho minhas dúvidas.
―Conhece bem mesmo?
―Sim. Pode apostar que sim. E mais! Karan trabalha pra caramba. Ele é garçom. Você quase não o verá. Quando trabalhar, ele estará em casa. Quando ele estiver em casa, você estará trabalhando.
Eu ajeito minha máscara no rosto. Ai como odeio isso! Não vejo a hora que chegue à vacina e com ela a imunização contra esse vírus. Quero que esse pesadelo acabe.
Como eu não digo nada ela continua:
―Pense como um negócio. Você o ajudará com o visto e ele lhe dará o dinheiro que precisa. Ou prefere ficar de braços cruzados chorando; reclamando com Deus e o mundo que está endividada?
―Tem certeza de que ele tem o dinheiro que preciso? Pelo que eu saiba, esses refugiados saem de seu país com a roupa do corpo.
―Eu fiz a mesma pergunta para Vitor e ele me disse que Karan era um rico comerciante, trouxe em sua bagagem todas as suas economias. Inclusive joias de família. Ele me garantiu que Karan tem o dinheiro que precisa. Inclusive querida, ele vive muito bem. Alugou um belo apartamento todo mobiliado. Bem melhor que o seu.
Eu pisco com essa nova informação.
Solto o ar.
―Deve ter uma alternativa.
Ela contrai os lábios brilhantes reprovando minhas palavras.
―Os juros não estacionam. Se levar muito tempo para encontrá-la, sua dívida multiplicará e aí querida, terá deixado passar essa oportunidade, pois com certeza o rapaz encontrará alguém para se casar.
As palavras de Samantha me atingem com força.
A doença da minha mãe consumiu todas as minhas economias e com o passar do tempo eu me endividei. Mas o pior de tudo foi sua morte. O câncer a levou. Meus esforços foram em vão.
As lágrimas embaçam meus olhos.
―E então? ―Samantha me questiona duramente, ignorando minha fragilidade.
―Está bem. Eu irei a esse encontro, mas por enquanto é só para conhecê-lo melhor ―olho meu relógio ― bem, agora preciso trabalhar. Não posso me atrasar. A gerente está no meu pé direto.
―Está certo. Prefere que esse encontro seja na minha casa ou em um ambiente descontraído?
―Num ambiente descontraído.
―Tem certeza? Na minha casa não é melhor?
―Por que acha isso?
―Porque assim eu posso conhecê-lo e dar minha opinião a respeito dele.
―Tudo bem. Você me convenceu ―digo e olho meu relógio novamente―Deus! Estou em cima da hora. Ainda bem que marcamos aqui.
Estamos no South Coast Plaza, no shopping que trabalho como vendedora numa grife de roupas femininas.
―Até a noite ―Samantha me diz.
―Oito horas?
―Exatamente.
―Ok.
Karan
Nos últimos 10 anos, a guerra forçou o deslocamento de milhões de pessoas que se refugiaram em outro país. Comigo não foi diferente; tomei essa decisão quando perdi a fé no meu país. Isso ocorreu quando os conflitos avançaram e chegaram à minha cidade de nome Ithriyah, onde as experiências traumáticas começaram.
Primeiro, a guerra levou meus pais quando uma bomba caiu próxima a um mercado onde eles estavam. Meses depois, foi meu irmão, que estava no lugar errado e na hora errada e levou um tiro de fuzil.
Os meses se passaram comigo tentando me reerguer e me recuperar do luto, mas a agonia não parou por aí. Samira, minha noiva, morreu também vítima de um bombardeio em sua casa.
Estou refugiado em Londres, saindo do meu país em busca de melhores condições de vida. Estou tentando me recuperar do sofrimento causado por tantas perdas.
Antes de tudo acontecer, eu era um próspero comerciante. Vivia como um rei, muito diferente da vida que levo aqui hoje, onde às vezes me sinto um mendigo. Pessoas que buscam asilo não podem trabalhar e nem receber benefícios do Reino Unido enquanto não têm o pedido de asilo aprovado. Se estiverem desamparadas e não tiverem outros meios de se sustentar, eles podem solicitar um apoio que hoje está em torno de £5,66 por dia.
Allah! Como se sobrevive com este valor? As instituições de caridade descreveram o sistema de asilo como "desumano" e "moralmente repreensível".
Graças a Allah, consegui um trabalho como garçom, mas o dono do restaurante já me deu um ultimato para resolver minha vida e sair da ilegalidade, ou ele irá me mandar embora.
Eu poderia até me dar o luxo de perder esse emprego e viver das minhas economias, mas até quando? E mesmo porque, eu não quero estar na mão dessa gente esperando minha legalidade, por isso entrei nessa ideia de me casar por conveniência. Isso é muito comum por aqui.
Hoje à noite vou conversar com a garota; a irmã de Vitor ficou de marcar o encontro. Por esse motivo, mudei meu horário e estou cobrindo o horário do almoço. Segundo Vitor, Amanda é a pessoa ideal para esse tipo de compromisso, pois ela está bem endividada e eu tenho o dinheiro e ela a disposição para entrar nisso. Solto o ar. Não concordo em nada com o casamento de conveniência. Minha mente é muito retrógrada para levar uma união que considero séria dessa forma. Só que foi a única alternativa que encontrei para dar um rumo certo à minha vida, ainda que meu coração relute e se aperte por causa da minha doce Samira.
Nesta hora, a imagem dela invade meu cérebro com força e sua doce voz chega aos meus ouvidos em forma de lembranças, estas que ainda preservo comigo...
―Se um dia eu morrer, promete que seguirá em frente, que fará de tudo para refazer sua vida ― ela me diz, seus olhos castanhos muito sérios nos meus. Eu respiro fundo. Não gosto muito de falar sobre morte. Há muitas no meu currículo. Fico calado, ouvindo sua respiração contra meu rosto, pensando em outra coisa, como em me casar logo para poder ficar mais do que nos beijos ardentes que trocamos.
―Karan.
Pisco.
―Não quero falar sobre isso.
―Mas eu quero. Promete-me que seguirá em frente se eu morrer. Solto o ar cheio de angústia. Perdi todos da minha família. Allah não irá me tirar Samira.
―E então? Fungo.
―Só se me prometer a mesma coisa. Seu narizinho se empina.
―Eu prometo. Se você morrer, vou sofrer muito, mas vou seguir em frente. Pronto. Agora falta você. Lembre-se que está diante de Allah. Ela sabe que sou de cumprir minhas palavras, ela vale por um escrito assinado, documentado.
―Eu seguirei em frente. Farei de tudo para seguir em frente. Seu rostinho de anjo assente para mim. Sem me conter, eu a puxo para meus braços, nossas bocas se unem num longo beijo. Minhas mãos ardem para tocá-la, mas profundamente, mas eu me controlo....
―Karan. Você pode atender à mesa três?
Limpo minhas lágrimas sem graça.
―Nem bialtaakid.
―O quê?
―Eu disse, sim, claro. ―Digo com meu sotaque carregado.
―Então vai, parece que está no mundo da lua. Mundo da lua. É cada expressão que ouço aqui! Ajeito minha máscara e pego o bloco de anotações.
Esse homem a encarava, seu olhar breve, mas carregado de segundas intenções. Era um gesto que eu já presenciara muitas vezes antes, mas naquele momento parecia ter um peso diferente, como se algo em mim estivesse mais atento ao mundo ao meu redor, mais consciente do valor inestimável que ela tinha. Talvez porque, ao observá-la, eu não visse apenas minha esposa, mas a mulher extraordinária que ela era.Amanda era dessas pessoas cuja presença preenchia o espaço sem esforço, mas sem alarde. Era uma força tranquila, um misto de doçura e determinação que cativava quem tivesse a sorte de conhecê-la. Sua força e graça poderiam chamar a atenção de qualquer um, mas sua essência ia além do que os olhos podiam captar. Só quem estivesse disposto a olhar mais fundo entenderia o que realmente fazia dela alguém tão especial.E eu entendia. Não apenas porque a amava, mas porque a admirava. Era como se cada pequeno gesto dela carregasse um mundo de significados, algo que só quem estivesse disposto a e
Segunda-feiraA luz suave do amanhecer se infiltrava pelas cortinas do nosso quarto, com seus primeiros raios dourados acariciando o ambiente e anunciando o início de mais uma semana. Eu já estava acordado há alguns minutos, sentado na beirada da cama, meus olhos perdidos na quietude da casa, ainda imersa na calma que precede o turbilhão do cotidiano. O ar fresco da manhã se misturava com o aroma reconfortante do café, que ainda vinha da cozinha, uma promessa de conforto em meio à rotina que sempre se acelerava tão rapidamente.Amanda, ao meu lado, ainda se espreguiçava, os cabelos espalhados sobre o travesseiro, o rosto suavemente iluminado pela luz que entrava pela janela. Era uma visão que eu adorava, o modo como ela se entregava àquele momento de transição entre o sono e a vigília. A tranquilidade de ver ela ali, com o corpo esticado na cama, me trazia um conforto inusitado, como se o simples fato de tê-la ao meu lado tornasse qualquer dificuldade do dia suportável.— Já vai começ
Depois do almoço, nos reunimos no jardim para aproveitar a tarde dourada que se estendia como um abraço morno. As árvores balançavam suavemente ao sabor do vento, suas folhas sussurrando segredos que só a natureza entendia. Samantha e Jonas conversavam animadamente sobre as próximas férias que planejavam, suas vozes misturando-se ao canto dos pássaros, enquanto Amanda balançava Natália na rede, uma cena que parecia tirada de uma pintura bucólica.De onde eu estava, sentado em uma cadeira de vime sombreada por um enorme ipê, podia observar tudo com uma tranquilidade que era quase palpável. Mas, por dentro, minha mente não parava. A quietude ao meu redor contrastava com o turbilhão de pensamentos que girava incessante. Gerenciar nossos negócios e ser pai tinha me transformado de maneiras que eu jamais imaginara.— Você está perdido em pensamentos de novo, Karan? — A voz de Amanda, doce e cheia de calor, cortou minha introspecção.Olhei para ela e vi seu rosto iluminado pelo sol que pass
Karan fica claramente emocionado.Esse novo Karan é assim....se emociona toda vez que confesso meu amor.—Você tirou a escuridão que existia dentro do meu peito, me encheu de vida, me encheu de cores.Seu rosto desce e ele me beija com muito carinho, um beijo tão doce que lágrimas vêm aos meus olhos. Eu o puxo forte para mim, sua boca então toma a minha com ímpeto.Nossos corpos agora estão tão unidos que posso sentir o pulsar de seu membro nas minhas coxas, louco para entrar dentro de mim.Mas ele não se apressa....Os minutos passam com muitas beijos, roçar de corpos, pés procurando um do outro, mãos entrelaçadas e depois em todos os lugares do meu corpo...Eu seguro forte seu rosto:—Quero você Karan. Quero você dentro de mim.Ele geme em resposta e seu olhar fica ainda mais ardente, a luxúria mais evidente.Não demora muito, Karan dá à luz ao meu desejo, mas dessa vez ele se lembra de se proteger com a camisinha.Minutos depois estamos pacíficos nos braços um do outro.—Da outra v
Horas depois....Hospital ChelseaSento-me na cadeira da sala de espera do consultório médico.Solto o ar cheio de tristeza.Deus! É horrível estar aqui novamente. Esse cheiro químico me traz angústia e revira meu estômago.Estar aqui é como abrir uma porta para o passado com tristes lembranças da minha mãe sofrendo em cima de uma cama, ligada há vários tubos.Karan parece perceber meu mal-estar, pois aperta a minha mão forte, me fazendo olhar para ele.—O que foi Amanda? Está passando mal? Você está branca.Exalo.—Esse lugar é horrível. Esse cheiro me faz mal e reaviva lembranças ruins, dos tempos que minha mãe ficou internada.A ruga de preocupação se desfaz e seus olhos se enternecem:—Entendo. Eu sei bem o que é isso. Por que acha que não quero retornar ao meu país? Mas saiba uma coisa, antes você estava sozinha para enfrentar tudo e todos. Hoje você tem a mim e eu a você. E o cordão de duas dobras não se quebra facilmente.Eu me sinto tocada com suas palavras.—Que lindo isso!—
Abro a porta do quarto de Amanda com o hanira nas mãos. Amanda dorme como um anjo. Coloco o prato no aparador e caminho até elaFico observando-a sobre os lençóis. A boca rosa entreaberta com sua respiração tranquila, os cabelos esparramados no travesseiro.Allah! Como ela é linda.Não me canso de admirá-la.Elevo minha mão e toco sua testa para ver se houve queda na temperatura. Sinto-me aliviado em constatar que sim. Quando afasto minha mão, Amanda abre os olhos e sorri.Eu sorrio para ela, feliz de vê-la bem.Contudo, como se caísse em si, ela me olha transtornada e puxa o lençol cobrindo o nariz.—Karan. Não era para você entrar aqui, lembra?—Eu estou de máscara.—Eu sei, mas todo cuidado é pouco.—Ghabiun isso. Fizemos amor.—Ghabiun?—Idiotice.—Pode ser, mas eu prefiro assim.Ele solta o ar.—Fiz a sopa. Vou trazer para você.AmandaEu me sento e sorrio ao ver ele pegando a almofada de cor azul-escuro que costuma ficar num canto da sala.Solto um suspiro cheio de admiração qua
Último capítulo