O morro despertava sob um céu nublado. Não era chuva, mas também não era sol. Era um desses dias que pareciam prender a respiração, esperando algo acontecer.
Na ONG Raízes do Morro, o dia começou cedo. Isis observava a movimentação no pátio com um sorriso discreto. Os caminhões tinham descarregado, ainda de madrugada, novas doações vindas “de cima” — como ela chamava o contato misterioso que, após cada entrega, mandava recursos. Dessa vez, os pacotes traziam materiais para o salão de Neumitcha, equipamentos de boxe, redes novas para os gols, cordas, camisetas personalizadas e kits completos para os campeonatos que estavam por vir. Tudo etiquetado com o nome da ONG. Tudo com cheiro de sonho novo.
— Vai dizer que isso também foi milagre? — provocou Neumitcha, com batom roxo e os olhos cheios d'água.
— Isso foi o morro falando alto — respondeu Isis. — E tá todo mundo ouvindo.
Neumitcha passou o dedo sobre o novo secador profissional. Atrás dela, algumas meninas da comunidade ajudavam