O sol entrava de mansinho pela janela da enfermaria improvisada na ONG. Neumitcha ainda usava lenço na cabeça, óculos escuros e um moletom largo. Mas as marcas já não eram só da dor. Eram de resistência. A cada dia, ela parecia menos frágil e mais furacão prestes a despertar.
Jade ajeitava almofadas ao redor dela enquanto Mariana organizava alguns papéis. Isis entrou por último, trazendo um copo de vitamina e aquele olhar que não pedia licença: atravessava.
— Dormiu bem? — Isis perguntou, sentando-se ao lado.
— Como se dorme depois de virar estatística? — Neumitcha respondeu com ironia.
— A gente não quer que você seja estatística. A gente quer que você seja manchete. Voz. Sinalizador — disse Mariana, com aquele jeito firme que era só dela.
Neumitcha soltou um riso fraco. — Cês são doidas. Eu mal consigo me olhar no espelho sem chorar.
— Mas você ainda tá aqui — Jade disse, segurando sua mão. — E isso já é mais do que muitos conseguiram. Você tá viva. E quando a gente sobrevive, a gen