SOFIA
O silêncio reinava no apartamento. Mas não era um silêncio calmo. Era denso, cheio de pensamentos que ninguém dizia em voz alta.
Enzo brincava no tapete da sala com o carrinho que Isabella tinha trazido, mas sem a alegria de sempre. Os olhinhos estavam baixos, a mão movia o brinquedo devagar, como se cada rodinha girando fosse uma tentativa de entender o que ele não conseguia nomear. E ver aquilo... doía mais do que qualquer palavra.
Na cozinha, a luz amarelada do fim da tarde caía sobre a mesa, onde duas canecas de chá esfriavam diante de nós. Eu não tinha forças pra beber. Eduardo também não. Estávamos sentados, frente a frente, mas com o coração pesado entre nós dois.
— A terapeuta deixou claro que qualquer quebra de rotina pode gerar retrocesso — falei, minha voz saindo mais firme do que eu me sentia por dentro. — Ainda mais agora. Depois de tudo o que ele viveu.
Eduardo soltou um suspiro e passou a mão pelos cabelos, frustrado, como quem queria tirar da cabeça algo que insi