SOFIA
Os dias parecem mais longos agora. Cada passo na rua é um exercício de cautela. Cada barulho inesperado, um sobressalto. Tento manter a rotina como sempre — levar Enzo pra escola, estudar, cuidar da casa, brincar, sorrir. Mas tudo é esforço.
As mensagens anônimas continuam chegando.
"Você não merece essa vida."
"Eles vão te abandonar quando souberem quem você é de verdade."
"Você não pode fugir do passado."
A cada nova frase, sinto meu coração afundar um pouco mais. Mesmo com Eduardo fazendo de tudo — segurança particular, câmeras, presença constante — o medo se aloja em mim como um parasita.
Naquela tarde, eu e Enzo estávamos brincando de pega-pega no jardim. Ele ria alto, leve, como se o mundo ainda fosse um lugar seguro. Eu me permiti sorrir com ele, por alguns segundos, antes de notar o carro.
Parado do outro lado da rua.
Vidros escuros. Motor ligado.
Meu corpo reagiu antes da mente.
Agarrei Enzo no colo, o coração disparado.
— Vamos pra dentro, amor — falei tentando manter