SOFIA
A segunda-feira começa como qualquer outra.
Café corrido, Enzo emburrado porque a blusa que escolhi "coça demais", Eduardo me beija a testa antes de sair, com aquele sorriso que aprendi a amar. A rotina pulsa com uma normalidade quase poética. Uma felicidade silenciosa, construída com esforço, amor e resiliência.
Mas a paz, às vezes, é uma miragem.
É traiçoeira. Escorregadia.
Estou saindo do campus, ainda com os livros abraçados contra o peito, pensando no que vou cozinhar para o jantar, quando o celular vibra na minha bolsa.
Atendo sem pensar.
— Dona Sofia Ferraz? — a voz do outro lado é fria, quase mecânica.
Instantaneamente, algo dentro de mim congela.
— Sim, sou eu — respondo, com a garganta seca.
— Aqui é da Delegacia Central. A senhora poderia comparecer para prestar esclarecimentos?
Minhas pernas vacilam. Sinto o peso dos livros dobrar em meus braços.
— O que aconteceu? — minha voz tenta ser firme, mas treme nas bordas.
— É melhor conversarmos pessoalmente — diz ele, ante