SOFIA
Num sábado à noite, a casa está silenciosa depois de um longo dia. Enzo dorme no quarto ao lado, e eu e Eduardo estamos na varanda, com uma manta sobre as pernas e duas xícaras de chá quente entre nós. O céu está pontilhado de estrelas e o ar carrega aquele cheiro doce de terra molhada que vem com a noite.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo os sons da natureza e o coração batendo mais leve. E então, com a coragem nascida do conforto e da confiança, eu solto em voz baixa:
— Eu queria... — respiro fundo, buscando as palavras certas — queria, um dia, adotar uma criança.
Ele vira o rosto lentamente, os olhos fixos em mim com uma ternura que só ele tem.
— Você pensa nisso há muito tempo?
Assinto, sentindo a garganta apertar.
— Desde antes de tudo acontecer. Quando eu estava presa, pensava em quantas crianças no mundo se sentem sozinhas, esquecidas. Eu sei como é não ter ninguém apostando em você. Como é se sentir invisível, como se sua existência não fizesse difer