SOFIA
A raiva queimava como lava sob minha pele, consumindo qualquer vestígio de medo que um dia me paralisou. O terror que antes me calava agora era só pó — cinzas espalhadas no chão da mulher que eu já não era mais. Eu tinha me transformado. Mãe. Protetora. Guerreira. E ali, diante do homem que tentou mergulhar minha família nas sombras, eu era fogo vivo.
— Você não entende nada sobre família, Victor — disparei, cada palavra afiada como lâmina, mirando direto no que restava da sua alma. — Porque quem conhece o amor de verdade sabe que ele é escudo, não fraqueza. Sabe que a gente sangra, mas não se rende. E pode ameaçar, gritar, tentar manipular com o veneno da sua história… mas a gente permanece. Juntos. Firmes. Imbatíveis.
Olhei dentro dos olhos dele, sem piscar. Vi o orgulho ferido tentando se esconder atrás do ódio. Mas por um instante — um segundo apenas — ele vacilou. Os olhos que antes brilhavam com fúria baixaram, fugiram dos meus.
— Bonito discurso — murmurou, com uma risada