SOFIA
O carro freou silencioso a algumas quadras da casa. O motorista olhou pelo retrovisor, preocupado. Eu apenas assenti com a cabeça. Ele entendeu. Não era hora de perguntas.
Desci e segui a pé, sentindo o frio da noite cortando minha pele como se fosse vidro. Cada passo era um conflito interno entre o medo e a coragem. Mas meus pés não hesitaram. Eu sabia onde estava entrando. E ainda assim… precisava ir.
A rua estava envolta em sombras, com postes piscando como se recusassem iluminar aquele canto esquecido da cidade. O sobrado parecia um corpo largado, velho, abandonado. Mas eu sentia o pulso da tensão vindo de dentro dele — vivo, pulsante, quase feroz.
Dois degraus. A mão na maçaneta. E um suspiro profundo que mais parecia um grito contido. Empurrei a porta. Estava aberta. Estava esperando por mim.
Lá dentro, a luz era fraca. As paredes descascadas guardavam silêncios de décadas. O cheiro de mofo e cigarro impregnava o ar como uma maldição. Meus olhos encontraram Eduardo primeir