SOFIA
Voltar pra cidade foi como caminhar descalça sobre cacos de vidro. A cada esquina, meu coração batia como se estivesse prestes a explodir dentro do peito. Tudo parecia um aviso, um risco disfarçado de normalidade. O barulho das buzinas, os passos apressados nas calçadas, o som abafado das sirenes ao longe — tudo era ameaça.
Eu carregava Enzo no colo como se ele fosse parte do meu corpo. A cabeça dele descansava no meu ombro, alheio ao inferno invisível que nos rondava. Mas eu sentia. Sentia no olhar de cada estranho que cruzava por mim. Sentia no estômago, um peso constante. A sensação de que estávamos sendo observados, medidos, caçados.
Eduardo tinha sido claro: nada de rotina. Nada de repetição.
E não era paranoia. Era proteção.
Cada dia, um caminho diferente. Um horário diferente. Um supermercado novo. Entregas rastreadas, recebidas com senha. Caminhadas curtas e só com escolta. Nenhuma informação pessoal nas redes, nenhum comentário descuidado.
A nova casa parecia tirada de