SeleneAcordei como quem retorna de um poço muito fundo. Primeiro veio o cheiro, mofo, ferro, água parada. Depois o frio, um frio que parecia ter unha. Só por último reencontrei o corpo, pesado, latejante, coberto por sangue que não era só meu. Tentei me erguer, mas meus músculos lembravam da queda, do grito preso, do chão que engole.Abri os olhos. A luz era pouca, uma fresta alta que derramava uma lâmina pálida sobre pedra húmida. A cela cabia em mim, e isso foi insulto… eu, que já ocupei salões com o meu vestido branco, agora ocupava um buraco.Levei a mão ao pescoço por reflexo. O véu não estava mais ali, a pele, porém, ainda carregava o fantasma do toque frio de Kaleb quando virou meu rosto para ver melhor a ruína.— “Vingança.” — ele disse. A palavra reverberou no crânio como sinos.— “Selene.” — A loba dentro de mim se mexeu, dolorida, mas viva — “Respira.”Respirei. O ar doeu.Rolei até encostar a bochecha na pedra gelada. O sangue seco repuxava, estalando como tinta velha. Er
Ler mais