Em meio a rumores de traições e movimentações suspeitas dentro da própria família, o rugido de Don Vittorio DeLuca ecoou do escritório como o trovão antes da tempestade.— Já estou cansado! Vão destruir tudo o que construí com sangue e ferro! — bradou, batendo a mão sobre a mesa.O cigarro escorregou dos dedos trêmulos, caiu, e o corpo do patriarca tombou pesado sobre os papéis. Um segundo de silêncio. Depois, o grito de Frank cortou o ar. — Pai!Correu até ele, desesperado. O rosto endurecido, o punho cerrado — mas o velho Don já não respirava.O médico chegou às pressas, a respiração ofegante, o olhar de quem já sabia o veredito. — Infarto fulminante. O coração não aguentou… o cigarro, o estresse, a idade.Frank, no entanto, permaneceu imóvel, os olhos fixos na mãe. — Cigarro, é? — murmurou, com voz fria. — Ou veneno, mãe.Dona Lúcia o encarou sem piscar. A lágrima que escorreu parecia tão ensaiada quanto um papel de teatro. O silêncio dela foi mais mortal do que qualquer resp

O salão virou ruína de porcelana e promessas. O gosto do café azedou na boca de Rose; a voz de Dona Lúcia ainda vibrava pela casa como uma sentença. Ela não hesitou: virou-se e saiu apressada, saltos batendo nas pedras frias do corredor, cada passo um prego na tampa do caixão que era aquela família. Precisava pegar Elena e desaparecer — qualquer lugar seria melhor do que ficar onde o nome De Luca castrava corações.Dona Lúcia acompanhou a nora com os olhos, uma figura de gelo. Em dois segundos ela já vira o jogo: olhos nos seguranças, sinal discreto. — O que estão esperando? — berrou pela porta. — Ela não pode ir. — Virou-se para Martin, a voz cheia de veneno. — Ela vai pegar Elena.Martin entrou em cena como um predador que gostou da caça. Hesitou apenas o suficiente para medir a vantagem. Frank, que já correra atrás de Rose, parou no meio do caminho, respirando fundo, tentando não explodir. Quando percebeu que os homens se colocavam nos corredores, seu rosto mudou: não de medo, mas

Rose dormiu como há muito tempo não dormia. Um sono profundo, pesado, quase sem sonhos — como se o corpo e a alma tivesse finalmente encontrado abrigo depois de uma longa tormenta. Quando abriu os olhos, o quarto estava banhado por uma luz suave, filtrada pelas cortinas de renda simples. O silêncio era tão completo que ela precisou de alguns segundos para entender onde estava. Nenhum som de motores, nenhum passo apressado, nenhuma voz autoritária ecoando pelos corredores. Apenas o canto dos pássaros e o farfalhar leve das árvores do lado de fora.Virou-se lentamente na cama de solteiro, o lençol amassado e quente ainda guardando o descanso da noite. Havia dormido tanto que nem percebeu a filha acordar. Por um instante, o pânico familiar a tomou — o medo de não encontrar Elena ao alcance dos olhos —, mas logo uma voz conhecida dissipou a aflição.— Elena, devagar, querida, senão vai se engasgar — dizia Caterina, num tom doce e paciente.Rose levantou devagar, ainda sonolenta, e seguiu

Rose congelou. O susto foi imediato. Virou-se com um frio percorrendo sua espinha e os joelhos quase cederam. Frank estava ali, tão perto, segurando-a pela cintura com força suficiente para impedir que ela caísse. O ar pareceu faltar.Seus olhos se encontraram, e Rose ficou sem palavras. Aqueles olhos castanhos profundos, nos quais ela há tanto tempo se perdia, agora a fixavam intensamente. O mundo ao redor desapareceu. Só existiam eles ali, a tensão elétrica no ar era quase visível.Os braços fortes de Frank ainda a seguravam, firme, protetor. Por um instante, o tempo pareceu parar. Ela não sabia se tremia de susto, de frio ou de emoção. Finalmente, a voz dela escapou, rouca e quase inaudível:— Frank… — disse, sem ar, quase um sussurro, carregado de tudo que ela sentia, de medo, desejo e lembranças de tudo que viveram juntos.Ela se afastou dele num sobressalto, e o cotovelo bateu contra uma lata na prateleira. O som metálico ecoou pelo mercadinho, e a lata de milho caiu no chão, ro

Rose chegou em casa ofegante, tentando disfarçar o turbilhão dentro dela. Assim que viu Elena correndo em sua direção, abriu um sorriso trêmulo e a abraçou com força — talvez mais do que o normal. Sentiu o cheirinho doce da filha, o calor pequeno nos braços, e, por um instante, todo o medo pareceu se acalmar.Na cozinha, o som da faca cortando legumes era a trilha de sua tentativa de normalidade. Caterina, sempre atenta, a observava em silêncio enquanto colocava a mesa. — Você está bem, filha? — perguntou com cuidado. — Aconteceu alguma coisa?Rose hesitou por um segundo, respirou fundo e forçou um sorriso. — Está tudo bem… só estou com dor de cabeça, o dia foi cansativo.Caterina não acreditou, mas não insistiu. Apenas assentiu em silêncio, o olhar preocupado. Durante o jantar, Rose mal provou a comida. O riso de Elena enchia a casa, e ela tentava se apegar àquela paz simples — à vida que construiu com tanto esforço.Mas, quando a noite caiu e a casa mergulhou no silêncio, o peso