1. O TESTAMENTO
A caneta de prata deslizou com lentidão solene sobre o papel branco, deixando traços firmes e decisivos. O som seco da ponta roçando o papel parecia ecoar pelas paredes cobertas de estantes de madeira escura, abarrotadas de livros antigos e empoeirados. Naquela sala silenciosa, onde o ar parecia pesar com a gravidade das escolhas feitas, Artur Villar, o patriarca de uma das famílias mais ricas do país, selava o destino de uma fortuna incalculável.Mesmo com a pele marcada pelo tempo, a respiração ofegante e os dedos levemente trêmulos, Artur ainda impunha respeito. Seu olhar penetrante, endurecido pelos anos de conquistas, sacrifícios e traições, mantinha a mesma firmeza de outrora. A postura, mesmo sentado, era ereta, quase militar.Diante dele, o advogado da família, Dr. Álvaro Menezes, observava cada gesto com cautela. A tensão no ambiente era quase palpável.— Tem certeza disso, senhor Villar? — perguntou Álvaro, com a voz baixa, como se temesse perturbar algum espírito antigo. —
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