Eu dormi. Depois de tudo — do escândalo, das ameaças, da polícia, do medo — eu finalmente dormi. E foi um sono tranquilo, apesar de tudo. Meu corpo e minha mente estavam tão exaustos, que eu não tinha mais energia para ficar acordada remoendo tudo. Foi aquele tipo de sono de exaustão, que desliga o corpo por necessidade, não por escolha. Mas quando acordei, o primeiro pensamento que me atravessou foi uma sombra: E se ele voltar? Fiquei ali, deitada por alguns minutos, ouvindo o som calmo da manhã invadir o apartamento. O sol espiava pela fresta da cortina lilás, como se quisesse me lembrar que a vida continuava, mesmo quando tudo dentro da gente queria parar. Levantei devagar, ainda com aquele aperto no peito. Enquanto me arrumava para o trabalho — a calça social preta, a blusa de tecido leve, os cabelos presos num coque improvisado — sentia a tensão se acomodar nos ombros, como se cada gesto precisasse ser feito em silêncio, com cautela. Preparei um café forte, comi metade d
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