Dora já não era a loba altiva que outrora se impunha pela arrogância. O tempo e o silêncio da alcateia haviam feito nela o que nenhuma punição pública conseguiria: esvaziado o orgulho.Dois anos haviam se passado desde sua união com Raag, um lobo de estatura impressionante, força admirável e coração duro como pedra. Ele a havia escolhido pela beleza, mas logo se cansou da ausência de filhos — e ela, do peso da rejeição diária.A alcateia murmurava. As fêmeas desviavam o olhar com pena ou desprezo. Os caçadores já não se calavam nas rodas noturnas. E Raag começava a voltar para casa cada vez mais tarde, com cheiro de caça e, às vezes, de outra loba.Dora, no entanto, se calava. Pela primeira vez, não revidava. Cuidava da casa com discrição. Andava recolhida, olhos baixos, sem alarde. Já não desafiava Tiza. Não zombava das filhas de outras. Apenas sobrevivia.Foi por isso que Tiza notou.Notou a mudança. Notou o silêncio. Notou a dor.E numa manhã cinzenta, sem avisar ninguém, foi até a
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