O portão lateral da Instituição Sombras de Esperança se fechou com um clique discreto. Tiza ajustou o sobretudo claro sobre os ombros. O dia fora longo, cheio de atendimentos a jovens ômegas recém-chegadas, algumas ainda com o cheiro do abandono impregnado na pele.
Ela já estava a caminho da garagem subterrânea quando sentiu.
Aquela presença.
Parou. O perfume, amadeirado, não era uma lembrança — era um aviso.
— Tão nobre, ajudando mães sem matilha... — a voz veio das sombras, com aquele tom untuoso que parecia acariciar e ferir ao mesmo tempo.
Tiza girou lentamente. Kael emergia da penumbra, com a calma de quem sabe que não será impedido.
— O que faz aqui? — ela perguntou, firme.
— Observando. Admirando. — Ele sorriu, dando alguns passos em sua direção. — E talvez… pedindo um favor antigo a uma loba que conheço bem demais.
Ela cruzou os braços.
— Não estou à venda, Kael. Nem tenho tempo pra teus jogos.
Ele se aproximou até a luz do poste da garagem bater sobre seu rosto.
Olhos afiados