“Quando o corpo lembra, a mente já não consegue negar.” — (Anotação de R.)Na segunda-feira, cruzo o limiar da Capela de Santa Albina. O ar é denso, impregnado pelo perfume doce e melancólico da cera derretida, e o silêncio parece ter sido moldado, ensaiado, como se cada som soubesse exatamente onde não estar.Escolho o último banco, um refúgio discreto. Meu corpo, uma máquina de hábitos, marca o tempo sem esforço: 12h39. Pontualmente 12h39. Há algo em mim que ainda sabe medir o invisível.A porta lateral se abre, suave, sem ranger. Uma mulher entra, os passos leves, mas carregados de intenção. Ela parece ter vindo rezar, mas seus olhos, inquietos, denunciam outra missão. Marta Viegas, presumo.Ela se acomoda dois bancos à frente, o corpo inclinado de lado, como quem se posiciona para um diálogo que não quer ser invasivo. Não me encara, mas sua presença é um chamado.— Menina... — sua voz corta o espaço entre nós, direta, sem rodeios, mas com uma ternura que não esperava. — Então você
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