“Quando a memória falha, a pele vira arquivo.” — (Anotação de R.)
Minha lembrança mais antiga começa do lado de fora de um hospital. Na mão, uma chave fria, quase sem vida, pendurada em um chaveiro barato que exibe um endereço: Rua do Alecrim, 108. Antes disso, há apenas um vazio. Não um vazio qualquer, mas um branco imaculado, tão impecável quanto uma parede recém-pintada, sem marcas, sem história.
Às vezes, me forço tentando alcançar as bordas desse branco, como quem tenta tocar o horizonte. Procuro rachaduras, brechas, qualquer coisa que me permita espiar o que veio antes. Mas o vazio é teimoso, impenetrável. Ele não cede. E então, resignada, retorno ao que sei que funciona: seguir o método, o procedimento. Não há espaço para fé aqui, apenas a lógica fria que me mantém em movimento.
...
Coloquei o colar com o rastreador ao redor do pescoço, sentindo o peso simbólico de cada decisão. As palavras de código escaparam dos meus lábios como quem testa trancas em uma porta já trancada:
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