“Às vezes, esquecer é a única forma de seguir em frente.” — (Haruki Murakami)
“Identidade não é o que você lembra — é o que não consegue esquecer.”― (anotações de R.)
(...)
De repente, veio à minha mente uma lembrança de forma tão intensa que foi como uma água gelada na nuca.
Só lembro da minha existência a partir dessa cena:
Era uma enfermaria.
Lençóis beges, cheiro de desinfetante e uma luz fluorescente que zunia sem parar. E uma dor — não só física, mas aquela dor que rasga por dentro, que não tem remédio.
Abri os olhos e vi uma enfermeira com rosto cansado me dizer, com voz profissional e sem emoção:
— Foi um aborto espontâneo. A curetagem correu bem. Você pode ir para casa amanhã.
Eu estava grávida?
Quando? De quem?
Nada. Só um buraco negro onde deveria haver lembranças.
Alguém me levou ao hospital — isso eu sei. Mas não me lembro do rosto dessa pessoa, nem da voz. Só tenho a lembrança de mãos segurando meus ombros, me guiando até dentro de um carro.
Será que foi nesse momento qu