E Se a Primavera Não Passasse
No sétimo ano de casamento, Cecília Lacerda descobriu que o marido, Vinícius Azevedo, tinha um filho de seis anos.
Se escondeu atrás do escorregador do jardim de infância e viu Vinícius se inclinar para abraçar um menino pequeno, rindo com ele.
— Papai, você demorou tanto para me ver de novo.
— Querido Lulu, o papai tem trabalhado muito. Você precisa escutar bem a mamãe, tá?
As palavras caíram sobre ela como um estrondo. Ficou imóvel, a mente em branco.
Um homem e um menino, semelhantes até nos traços mais sutis.
Tudo gritava a mesma verdade: o homem que jurou amar para sempre já a havia traído há muito tempo.
Eles eram amigos de infância, companheiros de tantos anos.
Um dia, ao salvar ele, ela foi atingida no ventre por uma faca — perdeu o filho que carregava e, com ele, a chance de ser mãe.
Naquele momento, Vinícius se ajoelhou ao seu lado, os olhos vermelhos, e disse com a voz trêmula:
— Não quero filho nenhum. Quero apenas você.
A lembrança daquele juramento ainda ecoava em seus ouvidos. Mas a cena diante de si reduzia tudo a pó.