Narrado por Lisa Deluca
A noite era escura demais para prometer qualquer salvação.
O céu, sem lua, parecia um véu de luto sobre nós. O mar à minha frente era uma extensão de sombras — um espelho partido, refletindo fragmentos distorcidos de algo que já foi belo. As ondas quebravam com violência contida, cúmplices do que estava por acontecer. Eu sentia o frio da areia sob meus pés, mas não me movia. Estava cravada ali, nua das minhas defesas, à espera.
Ouvi os passos dele. Lentos, determinados. Não me virei. Queria que Alejandro me visse primeiro por completo — como eu era de verdade. Despida da herança que carregava, da filha que meu pai queria que eu fosse, da mulher controlada que me ensinaram a interpretar.
Deixei o vestido cair com um gesto simples, quase ritual. O tecido escorregou pelos meus ombros e caiu como um silêncio sobre a areia. Meu corpo, exposto, não era um convite — era um grito. Um pedido para que ele me enxergasse além do nome, da carne, da juventude que me marcava