A noite seguinte foi silenciosa como luto. Mas não havia velório, nem flores, nem orações. Havia apenas o eco da notícia correndo pelos sites, pelas redes, pelas bocas dos que antes gritavam seu nome. “Lucky Valley” era agora uma tragédia em loop.
Helena não dormiu.
O corpo de Lucas Valdez, encontrado estirado no pátio interno do edifício velho onde passara seus últimos dias, havia sido identificado pela polícia antes mesmo da mídia saber. Nenhum bilhete deixado para a imprensa. Nenhuma carta para os fãs. Nada que explicasse — oficialmente — o porquê de alguém com milhões de ouvintes e uma carreira em ascensão decidir se calar.
Mas Helena sabia. Sabia porque esteve lá. Porque o encarou. Porque viu, por trás dos olhos úmidos e do sorriso quebrado, a criança ferida que nunca foi salva. A sombra que ninguém enxergou a tempo.
O apartamento ainda cheirava a cigarro frio e suor seco. Ela não conseguia sair dali. Sentava no chão da sala vazia, as costas contra a parede, as pernas encolhidas.