Capítulo 3 )
Lucas narrando Encostado na parede do corredor, cruzo os braços e fico ali, ouvindo Clara conversar com Sofia no quarto. Gosto disso. Gosto da calma na voz dela, da forma como fala com minha filha, da maneira como Sofia se sente segura com ela. Mas não posso deixar essa menina pensar que é mãe da minha filha. Sofia é minha. E eu estou de volta. Depois de alguns minutos, Clara sai do quarto em silêncio, fechando a porta com cuidado. Mas, antes que ela possa se afastar, minha voz a interrompe. — Clara. Ela para, se virando para mim com uma expressão cautelosa. — Me acompanhe até o escritório. Precisamos conversar. Vejo a hesitação em seu olhar, mas ela concorda com um aceno discreto. Desço as escadas primeiro, ouvindo seus passos leves atrás de mim. Quando entramos no escritório, fecho a porta e encaro a jovem à minha frente. — Senta. Ela obedece, mantendo a postura firme. Gosto disso também. Mas não vou deixar que ela confunda as coisas. Caminho até a mesa, apoiando as mãos na madeira e me inclinando um pouco. — Preciso deixar algo claro, Clara. Ela ergue as sobrancelhas, esperando que eu continue. — Sofia é minha filha. Eu sei que você esteve com ela todo esse tempo, mas agora eu estou aqui. E as coisas vão mudar. Ela pisca algumas vezes, como se absorvesse minhas palavras. — O que exatamente isso significa? — sua voz sai controlada, mas percebo um toque de desafio. Cruzo os braços. — Significa que eu vou ser o pai que minha filha merece. E você precisa lembrar qual é o seu lugar. Clara aperta os lábios, mas não recua. — Meu lugar? — repete, como se provasse a palavra. — E qual é, Lucas? Minha mandíbula trava. Ela quer jogar? Eu posso jogar também. — Você é a babá. Apenas isso. Seus olhos escurecem por um segundo, mas ela mantém a calma. — Se é assim que você vê, então por que Sofia não correu para você hoje? Por que ela ainda pergunta se você vai embora de novo? O golpe é direto, e eu sinto. Mas não desvio o olhar. Ela pode ter sido importante para Sofia. Mas isso não muda o fato de que minha filha é minha. E eu não vou dividir esse espaço com ninguém. As palavras de Clara me atingem como um soco. "Por que Sofia não correu para você hoje?" "Por que ela ainda pergunta se você vai embora de novo?" Respiro fundo, mantendo a expressão fechada. Não vou permitir que essa garota me desestabilize. — Isso não muda o fato de que eu sou o pai dela — rebato, minha voz saindo firme. — Você passou cinco anos cuidando dela, mas agora sou eu quem vai assumir esse papel. Clara mantém o olhar fixo no meu, sem recuar. — Se você realmente quer assumir esse papel, então precisa entender que Sofia não é só uma responsabilidade. Ela é uma criança. Tem sentimentos. Não vai ser da noite pro dia que você vai se tornar o herói dela. Sinto meu maxilar travar. — Eu não estou tentando ser um herói. Estou apenas colocando as coisas no lugar. Ela solta uma risada baixa, descrente. — No lugar? E onde eu fico nessa história, Lucas? Porque, goste você ou não, eu sou parte da vida dela. Cruzo os braços, observando cada detalhe de sua expressão. — Você é a babá, Clara. Dessa vez, vejo quando algo dentro dela se fecha. — É, Lucas. Eu sou a babá. A mulher que levantou de madrugada quando Sofia teve febre. A que segurou a mão dela quando teve medo. A que ensinou suas primeiras palavras e que enxugou suas lágrimas. Então, me diz… onde você estava enquanto tudo isso acontecia? Meu peito aperta, mas não demonstro. Não posso. — Eu estava garantindo o futuro dela. Ela balança a cabeça, soltando um suspiro pesado. — O que você estava fazendo não importa. O que importa é que agora você está aqui. Então, em vez de perder tempo tentando me afastar, deveria estar se perguntando como reconquistar sua filha. Ela se levanta, mantendo a postura firme. — Com licença. E antes que eu possa responder, Clara sai do escritório, me deixando sozinho com pensamentos que eu não estava pronto para encarar.