Capítulo 6
Lucas narrando As palavras dela ainda estão ecoando na minha cabeça. Cada frase que Clara jogou na minha cara veio como um soco bem dado. Ela não hesitou, não recuou, e o pior… estava certa. O orgulho grita dentro de mim, querendo revidar, mas uma parte minha sabe que ela não disse nenhuma mentira. Eu respiro fundo, tentando manter o controle. — Eu não vou decepcionar minha filha — digo, e é a única coisa que tenho certeza nesse momento. Mas Clara não recua. — Ótimo. Então não comece tentando tirar de mim o único papel que sempre foi meu. Meu olhar prende o dela. Ela acha que eu quero apagar o que ela fez? Não. Mas eu não posso permitir que minha filha a veja como mãe. Isso mexe comigo de um jeito que eu não sei explicar. Dou um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. — Você se apegou demais a algo que nunca foi seu, Clara. Ela solta um riso baixo, cruzando os braços. — Você realmente acha que amor é posse, Lucas? Que só porque você voltou agora, pode decidir o que Sofia sente? Fico em silêncio por um momento, porque eu não sei a resposta. Sofia me ama, disso eu sei. Mas ela ama Clara também, talvez até mais. E admitir isso… é difícil pra caralho. Dona Marta nos observa, mas não interfere. Sei que minha mãe está do lado dela, e isso só me deixa mais irritado. Clara balança a cabeça, como se já soubesse no que estou pensando. — Sabe qual é o seu problema? — ela diz, me olhando nos olhos. — Você quer me apagar porque sente que não tem o mesmo espaço no coração da Sofia. Minha mandíbula trava. — Não seja ridícula. — Então prova que estou errada — ela desafia. — Prova que você não precisa me diminuir pra ser o pai que sua filha precisa. O sangue ferve dentro de mim. Eu odeio que ela fale assim, como se já soubesse o final dessa história. Mas odeio ainda mais porque, no fundo, ela tem razão. Clara me desafia com o olhar, esperando uma resposta que eu não sei dar. Ela me desmonta com essa m*****a segurança, com essa certeza de que sabe mais da minha filha do que eu mesmo. E talvez saiba. Mas isso não significa que eu goste. — Você quer que eu prove? — minha voz sai mais baixa, carregada de algo que nem eu sei explicar. Ela continua firme, sem desviar. — Quero que pare de agir como se eu fosse um problema. Solto um riso curto, balançando a cabeça. — Você não é um problema, Clara. Mas também não é a mãe da minha filha. Ela respira fundo, controlando a irritação. — Nunca quis ocupar o lugar da Sabrina, porque ela nunca existiu para Sofia. O que eu fiz foi amá-la. E se isso te incomoda, Lucas, o problema não sou eu. Me aproximo mais um passo, sentindo minha paciência se esgotar. — O que me incomoda é você achar que tem mais direito sobre minha filha do que eu. Ela ri sem humor. — Direito? Direito é estar presente. É criar, é cuidar. Você está acostumado a mandar, mas com a Sofia não funciona assim. Amor não se impõe, Lucas. As palavras dela me atingem como um golpe certeiro. E eu odeio isso. Porque a verdade tem um jeito cruel de nos colocar contra nós mesmos. O silêncio toma conta da sala. Dona Marta continua ali, nos observando, mas sei que não vai intervir. Eu encaro Clara, e por um momento, esqueço toda a irritação. Porque agora, olhando bem, vejo algo além da babá que criou minha filha. Vejo uma mulher que me desafia, que me enfrenta, que não recua. E isso mexe comigo mais do que deveria. Saio da sala sem dizer mais nada. Minha paciência já está no limite, e discutir com Clara agora só vai me fazer perder ainda mais o controle Preciso esfriar a cabeça. Meu destino é o quartel, mas antes, sem nem pensar, desvio o caminho e subo até o quarto de Sofia A porta está entreaberta. Clara está lá dentro, organizando as coisas de Sofia. Ela está colocando fotos no porta-retrato, e um sorriso pequeno brinca nos lábios dela. Não posso negar. Ela é linda. Jovem E tem algo nela que me incomoda mais do que eu gostaria. A forma como ela se move pelo quarto, como se pertencesse ali. Como se fosse o lugar dela. Como se ela fosse… parte da minha vida. Aperto a mandíbula. Não gosto desse pensamento. Não gosto do jeito que meu olhar insiste em ficar preso nela. Mas, por mais que eu tente, não consigo desviar. Eu não deveria estar aqui. Não deveria estar parado na porta do quarto da minha filha, observando Clara como se ela fosse algo que eu quisesse para mim. Mas estou. E quando percebo, já entrei no quarto. Ela levanta o olhar e me vê ali. Seus olhos se arregalam levemente, mas ela não diz nada. E antes que eu possa pensar, antes que qualquer noção de certo e errado me pare, já estou colado na boca dela. O choque a faz me empurrar no primeiro instante, suas mãos pressionam meu peito tentando afastar o inevitável. Mas então, como se o próprio corpo dela entregasse a verdade que os lábios não dizem, ela relaxa. E corresponde. O beijo é intenso, urgente. Mas o que me pega de surpresa é outra coisa o gosto dela A sensação que explode dentro de mim. O fato de que esse é, sem dúvida, o melhor beijo que já experimentei. O beijo acaba, mas o efeito dele continua em mim. Clara me olha, os lábios ainda entreabertos, como se estivesse tentando entender o que acabou de acontecer. Eu também tento. Mas não consigo. Meu instinto é tocá-la de novo, e antes que possa pensar, minha mão já está em seu rosto, deslizando de leve pela pele macia. Ela se afasta rápido, como se meu toque queimasse. — Você tá doido? — sua voz sai ofegante, indignada. Eu deveria recuar. Pedir desculpas. Fingir que isso nunca aconteceu. Mas não sou homem de fingir nada. Olho direto nos olhos dela, sem hesitar. — Só se for por você. Clara pisca algumas vezes, surpresa com minha resposta. Mas eu não estou brincando E pelo jeito que seu peito sobe e desce mais rápido, ela sabe disso.