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capítulo 2 - entre pétalas e o silêncio

O salão de recepção é amplo, iluminado por lustres de cristal que projetam um brilho dourado sobre as mesas decoradas com rosas brancas e taças de champanhe. Isabelle Laurent — agora Isabelle Moretti — está no centro de tudo, cercada por pessoas importantes, sorrindo como se tivesse nascido para aquele momento. O vestido de festa, justo e brilhante, molda seu corpo de forma quase agressiva, como uma lembrança constante de que ela venceu.

Eu, por outro lado, ocupo um canto discreto, próxima à mesa dos arranjos, observando os movimentos como quem assiste a um espetáculo que não foi convidada a protagonizar. Tento me distrair com um copo de vinho, mas meus olhos, teimosos, buscam apenas um rosto no meio da multidão.

Alaric.

Ele circula pelo salão com passos firmes, cumprimentando convidados importantes, mas sem perder aquele ar inabalável que sempre teve. Não é caloroso, não é efusivo — mede cada palavra, cada olhar, como se o mundo fosse um tabuleiro de xadrez e todos ali fossem apenas peças.

E, ainda assim, quando seus olhos encontram os meus, a estratégia muda. Ele não sorri, mas há algo diferente no modo como caminha até mim.

— Está escondida? — a voz dele é baixa, mas suficientemente firme para prender minha atenção.

— Só… observando. — Tento soar casual, mas minha garganta está seca.

Ele me entrega uma taça nova, trocando a minha como se não aprovasse o que eu estava bebendo.

— Vinho doce. Você nunca gostou do seco.

Não é uma pergunta, é uma afirmação. E por um segundo, esqueço que Isabelle está do outro lado do salão, observando a cena como um falcão.

— Não precisava… — começo, mas ele me corta.

— Preciso, sim.

Ele fala como quem decide, não como quem oferece. Sempre foi assim comigo — sem pedir permissão para cuidar, como se fosse um direito dele.

Isabelle se aproxima, o perfume caro anunciando sua presença antes mesmo de sua voz melosa:

— Amor, os conselheiros de meu pai querem falar com você.

Ele não desvia o olhar de mim imediatamente. Apenas depois de alguns segundos, com uma calma quase provocadora, ele se volta para ela.

— Diga que vou em cinco minutos.

O rosto dela endurece, mas o sorriso permanece, treinado demais para quebrar em público.

— Claro. — E ela se afasta, o salto ecoando como pequenas lâminas contra o mármore.

Fico imóvel, tentando disfarçar o calor que sobe pelo meu rosto.

— Você não precisava fazer isso… — murmuro.

— Fazer o quê?

— Me colocar acima dela.

— Não coloquei. — Ele ergue uma sobrancelha, frio como sempre. — Apenas terminei o que estava fazendo.

Mas “o que estava fazendo” era ficar ao meu lado.

---

Mais tarde, quando a pista de dança está lotada, Isabelle reina no centro, conduzindo fotos e cumprimentos. Eu tento escapar para o jardim, buscando ar fresco. O vento noturno é um alívio até ouvir passos atrás de mim.

— Você está fugindo — diz Alaric, encostando-se à mureta de pedra ao meu lado.

— Só precisava respirar.

— Respire comigo, então. — Ele olha para a cidade iluminada abaixo como se estivesse avaliando um território que lhe pertence. — Você está estranha.

— Estou… normal. É o seu casamento, Alaric. Não tenho motivo para…

— Clara. — Ele fala meu nome como uma ordem. — Não minta para mim.

Engulo seco. Ele sempre soube ler quando eu estava mentindo.

— Só estou cansada — digo, cedendo um pouco.

Ele se vira totalmente para mim, a postura ereta, imponente.

— Você é importante demais para desaparecer assim. Não gosto quando some.

O “importante demais” reverbera dentro de mim como uma confissão, mesmo que não seja. Tento brincar, para quebrar a tensão:

— Você fala como se eu fosse sua prioridade.

— Você é. — Ele não pisca, não recua.

E é nesse instante que percebo o problema: ele realmente acredita nisso. Para Alaric, não importa o rótulo do relacionamento. Na lógica fria dele, minha presença é necessária — e ele não abre mão do que considera dele.

---

Voltamos para o salão. Isabelle me intercepta no caminho, o sorriso educado mascarando algo mais ácido.

— Clara, querida… — o tom de “querida” é afiado. — Você está deslumbrante hoje. Quase poderia passar por parte da família.

Quase. A palavra fica suspensa no ar, venenosa.

— Obrigada — respondo, fingindo não perceber a provocação.

Ela inclina levemente a cabeça, como quem estuda uma peça rara.

— É bom que esteja aqui. Alaric sempre falou muito de você. Até demais, eu diria.

Antes que eu possa responder, ele aparece ao meu lado, a mão tocando levemente minhas costas, conduzindo-me para longe sem uma palavra. Isabelle fica para trás, imóvel, mas os olhos dela queimam.

— Não responda a ela — diz ele, como se tivesse lido meus pensamentos. — Isabelle não está acostumada a não ser o centro de tudo.

— E você está acostumado a me proteger de todo mundo? — pergunto, meio desafiando.

— Sempre.

---

Quando a festa chega ao fim, os convidados começam a se despedir. Eu tento sair discretamente, mas Alaric intercepta minha passagem na porta.

— Não vá ainda.

— Está tarde. — Tento não olhar muito para ele.

— Eu levo você.

— Não precisa…

— Preciso, sim. — É o mesmo tom de antes, inegociável.

Isabelle se aproxima, segurando o braço dele.

— Amor, o carro está pronto para nós.

Ele olha para ela com calma.

— Eu já vou. — Depois, para mim: — Espere no jardim.

Eu vou. Porque sempre vou. E enquanto espero, penso no quão fácil é para ele comandar todos os meus passos… e no quão impossível é escapar de alguém que me trata como prioridade, mesmo sem me amar.

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