capítulo 3 - sentimentos

O silêncio do carro é quase sufocante. A cidade noturna passa rápido pela janela, mas não consigo me distrair com as luzes. Estou consciente demais da presença dele, sentado ao meu lado, firme, dirigindo como quem não tem dúvidas sobre o caminho a seguir.

Alaric não precisa falar para que eu sinta o peso de sua atenção. O perfil dele é frio, impecável — a expressão neutra que nenhum jornalista ou rival consegue decifrar. Mas eu, que o conheço desde criança, sei que aquela quietude esconde pensamentos que ele não verbaliza.

— Você não precisava me trazer — arrisco dizer, apenas para quebrar o peso do ar.

— Precisei — responde seco, sem olhar para mim.

A resposta encerra a conversa, como sempre. É assim que ele domina: não com gritos, mas com a firmeza de quem nunca abre espaço para réplica.

Quando o carro estaciona diante do meu prédio, meu coração dispara. Eu deveria simplesmente sair, agradecer e encerrar o assunto. Mas nada com Alaric é simples.

Ele desliga o motor e me encara. O olhar dele é direto, como se estivesse registrando cada detalhe da minha expressão.

— Vá descansar. — A ordem vem baixa, mas cortante.

Assinto, tentando encontrar forças para sair. Abro a porta, mas antes de descer, escuto:

— Clara.

Meu nome nos lábios dele é um comando. Viro-me devagar.

— Não desapareça de novo. — É só isso. Uma ordem disfarçada de preocupação.

— Boa noite, Alaric. — Tento sorrir, mas minha voz falha.

Entro no prédio sem olhar para trás, mesmo sabendo que ele só vai ligar o carro quando eu estiver em segurança. Ele sempre fez isso. E talvez esse seja o problema.

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A lua de mel

Os dias seguintes são um misto de silêncio e sufocamento. As revistas estampam fotos de Alaric e Isabelle em lugares paradisíacos: praias privadas, resorts de luxo, jantares sob a luz das velas. O sorriso dela é impecável, ensaiado para as câmeras. O dele… é o mesmo de sempre. Neutro, calculado, frio.

E, mesmo assim, as manchetes gritam: “O casal perfeito da elite europeia”.

Perfeito.

Eu tento ignorar, mas não há como. No trabalho, as pessoas comentam, admiradas com a beleza de Isabelle, com o poder de Alaric, com a fusão de duas famílias que se tornam praticamente intocáveis.

E eu? Eu apenas sorrio educadamente, engulo a dor e sigo em frente.

À noite, deitada na minha cama, encaro o teto e tento convencer a mim mesma de que ele não me pertence. Ele nunca pertenceu. Ainda assim, é impossível apagar a sensação de que, mesmo a quilômetros de distância, Alaric continua ditando meu ritmo.

Quando Isabelle posta uma foto ao lado dele, segurando sua mão, sinto como se fosse uma provocação pessoal. E talvez seja. Ela sabe. Ela sempre soube.

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O retorno

Semanas depois, a lua de mel acaba. A vida real retorna. E, com ela, Alaric volta a ser o CEO frio e intolerante que todos temem.

Os jornais agora falam sobre reuniões milionárias, fusões, negociações internacionais. Nas capas, ele aparece de terno escuro, imponente, ao lado de Isabelle — que sorri, mas nunca ocupa o espaço que ele ocupa.

E, ainda assim, mesmo no meio do império que ele governa, eu continuo presa na órbita dele.

Ele começa a aparecer nos mesmos lugares que eu, como se fosse coincidência. Uma cafeteria próxima ao meu trabalho, uma livraria onde eu gosto de passar as tardes, até mesmo a rua onde costumo correr nas manhãs de domingo. Sempre com a mesma postura: discreto, frio, mas presente.

Certa vez, cruzei com ele na saída do meu prédio. Ele estava no carro, a janela abaixada.

— Entre. — Não foi uma pergunta.

— Alaric, eu…

— Clara. — Só isso. E eu obedeci.

Dentro do carro, ele não falou muito. Apenas me deixou no trabalho, sem explicações. Mas aquele gesto deixou claro: não importa onde eu esteja, ele sempre vai se certificar de que estou sob o alcance dele.

E isso se repete.

Ele corrige meu vinho quando escolho errado em um jantar de negócios para o qual fui convidada. Ele manda entregar flores na minha porta sem assinar o cartão. Ele aparece em reuniões que não precisava, apenas para me observar em silêncio.

Ele não é carinhoso, não é doce. Não há promessas, nem declarações. Apenas presença. Uma presença sufocante, constante, inevitável.

Isabelle continua ao lado dele nas revistas, mas eu continuo sendo a prioridade invisível.

Em uma tarde, depois de uma reunião, arrisco um desafio:

— Você não pode continuar assim, Alaric. Eu preciso da minha vida.

Ele me olha com a mesma frieza que usa contra rivais em negociações.

— A sua vida existe porque eu permito.

Meu corpo inteiro estremece. Não é uma ameaça dita em tom alto. É pior: é uma constatação.

Ele se aproxima, baixo, firme:

— Você não precisa me amar. Não precisa me querer. Mas não desapareça.

— E se eu desaparecer? — pergunto, num fio de voz.

Ele segura meu queixo com delicadeza cruel, forçando-me a encará-lo.

— Eu não deixaria.

Aquela certeza é a maior prisão de todas.

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Naquela noite, deitada em minha cama, penso em tudo. Ele tem Isabelle. Ele tem o império Moretti. Ele tem o mundo.

E, ainda assim, me mantém.

Não como amante. Não como esposa. Não como amiga.

Mas como algo que só ele consegue definir.

Uma prioridade que não faz sentido.

E a cada dia que passa, percebo que fugir dele não é apenas difícil. É impossível.

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