Leonardo não sabia o que pensar exatamente sobre aquela cobrança.

Era estranho o suficiente pra deixá-lo desconfiado, mas também intrigante o bastante pra não ignorar.

Mandou dois de seus homens mais confiáveis fazerem uma busca profunda.

Perfil financeiro, ligações criminais, dívidas antigas, relacionamentos, tudo.

Queria saber quem era essa tal “Família Ferraiz” e como chegaram ao ponto de dever à máfia Diamond.

Horas depois, o relatório chegou.

E foi aí que ele começou a ligar os pontos.

Enquanto folheava as primeiras páginas no escritório, sentado em sua cadeira de couro negro com detalhes em prata, Leonardo mantinha a expressão neutra.

Mas por dentro, os fios começavam a se entrelaçar.

A tal Alícia Ferraiz…

Filha mais velha.

Família falida.

Dívidas altas por conta de apostas e fraudes fiscais.

E então ele viu a foto dela.

“A mulher da entrevista."

A mesma que esbarrou nele dias atrás.

A mesma que parecia tensa, bonita e completamente deslocada naquele lugar.

Agora o interesse era pessoal.

Como Subchefe da máfia  ou melhor, herdeiro direto do império Diamond  Leonardo sabia que aquilo não era coincidência.

Alguém lá em cima estava mexendo as peças.

Talvez sua mãe.

Talvez o destino.

Talvez só o caos de sempre.

Mas uma coisa era certa:

Ele ia resolver aquilo.

E a moça da foto?

Ia ter que conversar com ele

mais cedo do que ela imaginava.

Ou pelo menos...

Era o que ele pensava.

A situação parecia simples no papel: dívida, cobrança, acordo ou punição.

Mas a presença de uma criança  a irmã mais nova de Alícia  complicava tudo.

Leonardo suspirou fundo, passando os olhos pelas últimas páginas do relatório.

E então entendeu.

Era isso.

Era exatamente isso que sua mãe queria dizer quando o chamou pessoalmente.

Não era só sobre dinheiro.

Era sobre limites.

Dona Donatella sempre teve uma linha tênue entre o poder e a compaixão.

Fria, direta, calculista, mas jamais perdoava quando crianças eram afetadas pelos erros dos adultos.

Era um princípio sagrado na família Diamond:

“— Você pode quebrar pernas, contratos, alianças.

Mas não quebra a infância de alguém.”

Por isso ela o escolheu pra resolver.

Porque sabia que ele encontraria outra saída.

Uma que não deixasse sangue no asfalto  não dessa vez.

Leonardo poderia simplesmente mandar um aviso.

Dar um prazo.

Forçar uma visita.

Mas não queria.

Ainda não.

Existiam maneiras mais sutis de fazer alguém sentir o peso de uma dívida.

E ele era mestre nisso.

Preferia observar por enquanto.

Deixar a poeira baixar...

E os Ferraiz se afogarem no próprio desespero.

Afinal, quando o inimigo acredita que ainda tem opções, ele mostra onde está mais vulnerável.

Fechou o relatório e o deixou sobre a mesa de madeira escura do escritório.

O símbolo da família Diamond entalhado no centro parecia brilhar à luz do abajur, como um lembrete silencioso do poder que carregava.

Ele ainda tinha uma transação a concluir naquela tarde um acordo financeiro importante para a máfia  e, depois disso, duas reuniões que exigiriam sua presença.

Nada fora do normal.

Só negócios.

Por hora, Alícia Ferraiz e sua família podiam respirar em paz.

Mas o ar que respiravam… já não era livre.

As reuniões daquela tarde fluíram mais rápido do que o previsto.

Nenhum atraso, nenhuma resistência.

Homens graúdos da máfia, políticos sujos, empresários com os bolsos abertos — todos acatavam a presença de Leonardo Diamond sem pestanejar.

Com ele, não havia espaço para rodeios.

As palavras saíam poucas, diretas.

E o silêncio que se seguia era mais eloquente do que qualquer discurso.

Alguns homens tentavam manter a pose, outros já tremiam só de estar na mesma sala.

Mas uma coisa era certa: ninguém ousava cruzar o olhar com ele por mais de três segundos.

Ao término da última assinatura, Leonardo levantou-se sem pressa.

Fez um leve aceno com a cabeça — um gesto que bastava para encerrar tudo — e seus guarda-costas já estavam a postos.

O som das botas ecoando sobre o mármore e o perfume amadeirado que ele usava marcavam sua saída como um selo de poder.

Mais um dia concluído.

Mais um império mantido sob controle.

De volta à sua Ferrari preta, recostou-se no banco de couro e soltou um leve suspiro.

— Casa — ordenou.

O motorista não hesitou.

Enquanto os portões da sede se fechavam atrás deles, Leonardo pensava em tudo o que ainda estava por vir.

Ele não sabia exatamente quando faria o próximo movimento sobre a família Ferraiz…

Mas o tabuleiro já estava montado.

E ele, como sempre, jogaria com maestria.

De volta à mansão, Leonardo mal teve tempo de tirar o paletó.

Seu celular vibrou três vezes.

Mensagens.

Duas de seu pai. Uma da avó.

O tema? O mesmo de sempre: netos.

“— Filho, tô ficando velho. Traz logo um herdeiro pra essa casa antes que eu vire pó.”

“— Leonardo, sua avó já fez três testamentos e em nenhum deles tem o nome de uma criança.”

“— Queremos alguém pra mimar, ensinar a usar arma e dar o mundo antes de morrer.”

Ele soltou uma risada curta, seca.

Era um tipo de chantagem emocional mafiosa à moda antiga.

Seus pais tinham tudo.

Dinheiro, poder, respeito.

Mas estavam entediados.

E queriam... um neto.

Um novo Diamond.

Alguém pra cuidar, proteger, paparicar e, claro, treinar desde cedo.

" — E tem que ser alguém à altura, sua avó sempre dizia.

"— Nada de mulherzinha fraca, queremos uma mãe com sangue forte e coragem nos olhos."

Leonardo passou a mão nos cabelos, encarando a tela do celular.

Sorriu de canto.

Mal sabiam eles…

O destino já tinha colocado uma certa loira determinada no seu caminho.

Grávida. Sozinha.

E totalmente alheia ao caos que viria a seguir.

Ao chegar em casa, Leonardo não foi direto pro quarto.

Preferiu caminhar lentamente pela mansão silenciosa, o som dos próprios passos ecoando sobre o mármore frio.

Pensava. Ruminava.

A vida que levava era... funcional.

Cheia de poder, respeito, luxo.

Mas também era solitária.

Seca.

Desde que terminara com a noiva  uma patricinha mimada que vivia de selfies e frases vazias, não havia se permitido olhar para mais ninguém com interesse real.